Celebração dos Tubarões Azuis serve também para questionar o preconceito | Dai Varela

1 de fevereiro de 2024

Celebração dos Tubarões Azuis serve também para questionar o preconceito

Ah, a nossa Seleção Nacional está em alta neste CAN. Cada golo é um momento de explosão de alegria, abraços, beijos… como assim beijos entre machos? Este fantástico universo de homens que os Tubarões Azuis estão a nadar é dos poucos espaços em que a sociedade crioula cheia de regras heteronormativas aceita com agrado a homoafetividadde.



E aqui sou obrigado a fazer a distinção: homoafetividade não é o mesmo que homossexualismo. Ka bo trá conclusão precpitóde! Em resumo, enquanto "homossexual" é um termo mais antigo e amplamente utilizado para descrever a orientação sexual, "homoafetivo" é um termo mais recente que busca dar ênfase às relações emocionais e afetivas entre pessoas do mesmo sexo. Neste caso estou a falar da demonstração de afeto entre dois machos.

No campo os nossos jogadores podem demonstrar carinho, afeto ou amor entre os homens. O desporto é um campo de emoções intensas. Por ser um contexto de desporto, os Tubarões Azuis podem exteriorizar isso de várias formas, incluindo, mas não se limitando a, gestos como abraços, beijos, mãos dadas ou simplesmente ações que demonstrem apoio emocional e proximidade. Só que neste contexto a nossa sociedade encara isso como algo normal, incluindo aqueles adeptos que consideram errado dois homens abraçados, de mãos dadas na rua ou demonstrações de carinho e proximidade entre machos.

Se for no campo os jogadores podem demonstrar carinho, afeto ou amor que ninguém considera estranho. Quando a Seleção Nacional marca golo há explosão de alegria e alívio que podem levar a demonstrações espontâneas de afeto. Estes momentos são frequentemente capturados pelas câmaras e podem incluir um abraço de urso depois de um golo, corpos suados que se misturam no relvado, um beijo na bochecha (…) para comemorar uma vitória, ou até mesmo mãos dadas em um círculo de motivação. No calor do momento, as barreiras sociais habituais podem ser quebradas, mesmo no caso de derrota com as lágrimas e demonstrações de afeto e alento. Parece que, dentro das quatro linhas, as regras da heteronormatividade recebem um cartão vermelho e são expulsas do jogo. Ou seja, o contexto desportivo, focado na celebração e na conquista compartilhada, muitas vezes permite uma liberdade de expressão maior do que em outros contextos sociais.

Como disse o meu amigo B. “Unico barrera dent de komp é kel k Vozinha ta po na hora de livre.”

O meu ponto? É que o contexto permite normalizar a expressividade do afeto entre machos. Tendo em conta que a nossa Selecção Nacional já está nos Quartos de Final pode-se dizer que a habilidade atlética, o espírito de equipa ou a paixão pelo desporto não são afetados pelas expressivas demonstrações de contentamento entre eles. Pelo contrário, parece que até fortalece! É engraçado pensar que, fora do campo, a sociedade ainda tem um longo caminho a percorrer para aceitar essas demonstrações de afeto entre homens com a mesma naturalidade.

Quando Cabo Verde passar para as Meias-Finais, mais uma vez vamos ver a emoção e o afeto a se expressarem livremente entre os Tubarões Azuis. É neste momento que podemos questionar: por que é que no campo é bonito de se ver e na sociedade recebe reprovação? Força Cabo Verde.

Crédito da foto: Balai Cabo Verde

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