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1 de fevereiro de 2024

๐‚๐š๐›๐จ ๐•๐ž๐ซ๐๐ž: ๐„๐ง๐ญ๐ซ๐ž ๐š ๐ˆ๐๐ž๐ง๐ญ๐ข๐๐š๐๐ž ๐€๐Ÿ๐ซ๐ข๐œ๐š๐ง๐š ๐ž ๐š ๐ˆ๐๐ž๐ง๐ญ๐ข๐Ÿ๐ข๐œ๐š๐œ̧๐š̃๐จ ๐„๐ฎ๐ซ๐จ๐ฉ๐ž๐ข๐š

De quando em vez levanta-se esta questรฃo sobre a nossa crioulidade, identidade africana e identificaรงรฃo europeia. Esta รฉ uma questรฃo tรฃo importante no dia-a-dia do cabo-verdiano que se torna numa nรฃo-questรฃo. Mas, por uma ou outra razรฃo, estoura a bolha e chovem comentรกrios de vรกrios lados. Incluindo o meu aqui.




Como se sabe, Cabo Verde encontra-se geograficamente distante do continente africano, mas intimamente ligado a ele atravรฉs de laรงos polรญticos, culturais e histรณricos. Cabo Verde nรฃo estรก no continente africano, mas faz parte deste projeto polรญtico, cultural e histรณrico que รฉ รfrica. Fisicamente, Cabo Verde estรก separado do continente africano pelo vasto Oceano Atlรขntico, mas esta conexรฃo com รfrica nรฃo se pode negar. Esta pertenรงa continental transcende a geografia e abraรงa as complexidades da identidade e da polรญtica, que o faz membro da Uniรฃo Africana, participante de iniciativas pan-africanas, engajado em questรตes que afetam o continente africano, para alรฉm de demonstrar a sua solidariedade (dentro das suas possibilidades) e compromisso com o projeto polรญtico de รfrica, beneficiando-se de acordos comerciais voltados para o continente africano.

Mesmo sem querer, os desafios enfrentados por Cabo Verde, como as questรตes climรกticas, o suรฃo e o pรณ-di-terra que vem lรก do Sahara, a gestรฃo de recursos hรญdricos e o desenvolvimento sustentรกvel, sรฃo compartilhados com muitas naรงรตes africanas, fomentando uma busca comum por soluรงรตes e estratรฉgias de resiliรชncia.

Das nossas culturas, emerge uma fusรฃo cultural รบnica que compartilha raรญzes profundas com a รfrica, Europa e Amรฉrica Latina. Essas culturas que se manifestam diariamente pelas ilhas e sua diรกspora (incluindo aquelas que sofrem crรญticas pela sua identificaรงรฃo ‘pouco africanizada’) enriquecem a diversidade da nossa รfrica. Somos essas diversidades de culturas e รฉ isso que dรก a cada um essa definiรงรฃo inclusiva de pertenรงa que vai alรฉm das fronteiras fรญsicas de Cabo Verde ou de um รfrica/Europa.

O que nรฃo se pode negar รฉ que as pessoas expressem as suas culturas atravรฉs de um conjunto de caracterรญsticas culturais, histรณricas, linguรญsticas e sociais que vรฃo definir este nosso povo crioulo. Esse conjunto de identidades individuais sรฃo compartilhados para criar um senso de “nรณs” que รฉ dinรขmico e influenciado por fatores internos e externos. E essa identidade รฉ maioritariamente africana. Mas, aqui poderรก residir o desafio: se a identidade รฉ maioritariamente africana, jรก a identificaรงรฃo รฉ ela maioritariamente ocidental/europeia. A identificaรงรฃo รฉ o processo pelo qual o cabo-verdiano faz uso para ser reconhecido por outros dentro e fora do grupo. Isso pode incluir o reconhecimento de caracterรญsticas fรญsicas, a prรกtica de tradiรงรตes culturais, religiosas, formais, de vestuรกrio, arquitectura, aspectos legais e oficiais, etiqueta, protocolo, alimentaรงรฃo…

Claro que o facto de ter uma identidade africana e uma identificaรงรฃo ocidental/europeia nรฃo significa que o outro vรก ver ou classificar o cabo-verdiano ou o grupo de cabo-verdianos como europeu. ร‰ aqui que reside parte da nossa beleza cultural e confusรฃo da nossa posiรงรฃo no Mundo. ร‰ isso que faz com que cabo-verdianos nas redes sociais acusem outros de serem pouco africanos e quando se entra nos seus perfis nota-se que todas as formas que usam para se identificar para o mundo virtual sรฃo sinalizar traรงos ocidentais/europeus. Nรณs somos um povo intrinsecamente confuso com uns a tentar dominar atravรฉs das narrativas. Essa identidade e identificaรงรฃo nem sempre se realizam ao mesmo tempo na pessoa. Ou seja, a identidade รฉ mais estรกtica enquanto a identificaรงรฃo รฉ mais dinรขmica e tem interferรชncia na forma como o crioulo relaciona-se consigo prรณprio, com os outros, com o meio que o envolve e atรฉ com o intangรญvel.

Contudo, gosta-se ou nรฃo, ao analista cabe o dever de ler a sua realidade e nรฃo de criar uma realidade ideal.

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