É por isso que não me revejo no documentário "Cabo Verde: um ar de paraíso" | Dai Varela

21 de outubro de 2014

É por isso que não me revejo no documentário "Cabo Verde: um ar de paraíso"


Após conseguir assistir ao vídeo, declaro que não me revejo no documentário "Cabo Verde: um ar de paraíso" por razões próprias. Em baixo um extrato do vídeo:



Extrait : Cap Vert - Documentaire #Investigations por franceo



O vídeo pode ser feito download aqui

Quando fui contatado por Patrick Dedole, a produtora francesa me disse que seria um documentário enquadrado numa série dedicada aos arquipélagos de Madagáscar, Nova Caledônia e Cabo Verde para “retratar a realidade social de Cabo Verde” e procurar ser “o mais fiel possível” ao retrato desta sociedade multicultural e cosmopolita. Para minha surpresa vejo que se trata de uma reportagem investigativa para um programa com foco no narcotráfico, máfia, criminalidade, espionagem, poluição e terrorismo e que faz o paralelo apenas com a realidade da Nigéria. Bem diferente daquilo que me garantiram e de que seria divulgado na série "Um ar de paraíso" com o objetivo de mostrar a realidade social, cultural e económica das ilhas paradisíacas.

A apresentadora do programa antes de lançar o vídeo "Cabo Verde: um ar de paraíso" 

Quando lhes enviei as propostas de reportagem aceitaram e fizemos uma agenda. Durante 10 dias estive com o jornalista francês, Charles Baget e estes foram os temas abordados com entrevistas filmadas:

- o impacto do Porto Grande na economia de São Vicente (com entrevista no local com os responsáveis)

- a capacidade de intervenção e patrulhamento da Guarda Costeira nas águas nacionais (em que se incluía entrevista com seu comandante na ilha e visita a todas as embarcações);

- acompanhamos os responsáveis de organizações não governamentais que estiveram reunidos no Mindelo e entrevistamos vários deles para falar sobre os problemas que o país atravessa. No local ainda questionamos o Primeiro-ministro, José Maria Neves, sobre os problemas levantados pelas ONG’s.

- o sonho de uma jovem caboverdeana (acompanhamos uma jovem que é apaixonada pelo futebol e que estava a fazer o curso de árbitra para mostrar um sonho com um rosto humano nas ilhas);

- acompanhamos a Parada Gay de Mindelo e entrevistamos vários homossexuais sobre as dificuldades enfrentadas no país e suas revindicações; 

- estivemos toda a festa de San Jon, na Ribeira de Julião, a filmar os festejos religiosos e profanos e a entrevistar pessoas em meio ao rufar dos tambores para mostrar esta faceta crioula;

- acompanhamos um dos responsáveis da Selecção de Futebol de Cabo Verde (camada de formação) para falar do sonho dos jovens em se tornar profissionais de futebol. Estivemos com ele enquanto assistia ao jogo do Mundial entre Portugal e Gana e no outro dia acompanhamos a final do Campeonato de São Vicente em Juvenis em que se sagrou campeão.

- a vida nocturna de Mindelo (entrevistamos responsáveis de espaços e acompanhamos na madrugada uma jovem que pratica striptease e faz a vida na night para financiar os estudos superiores. Estivemos com ela na sua universidade a mostrar (também) sua força de vontade para estar de manhã cedo a estudar após uma noite sem dormir);

- acompanhamos um jovem artista que toca instrumentos de corda. Estivemos com ele na sua actuação na Casa da Morna e no outro dia passamos uma tarde inteira na casa dele onde tem um estúdio musical caseiro e no qual se fez acompanhar por um conhecido cantor da ilha para se falar sobre a música feita em Cabo Verde;

- estivemos com os pescadores para sentir o pulsar da Rua da Praia e acompanhamos um frequentador do local que nos falou sobre esta forma de estar dos pescadores e do grogue do bar “Boca de Tubarão”

- entrevistamos um responsável de uma organização de defesa do ambiente que criticou os problemas ambientais e a pesca ilegal (no memento da entrevista estávamos no cais e estava-se a descarregar o atum e as barbatanas de tubarão);

- a parte sobre os ex-membros das gangs tinha sido feita na prespectiva de mostrar o trabalho de Frei Silvino ao ajudar os jovens a encontrar um novo rumo de vida. Claro que se iria falar da experiência dos gangs e da intervenção policial. Entretanto, apesar de quase dois meses de tentativas, a Policia Nacional não colaborou e por isso ficou apenas com a versão dos jovens que estiveram em conflito com a lei. 


O jornalista francês não conseguiu entrevistar os responsáveis da Policia e nem filmou qualquer actividade dos “Ninjas”. Apesar disso, todo o vídeo é construído com imagens dos “Ninjas” captadas para o documentário “Pacificadores”. Este então decide fazer uma espécie de investigação actual com imagens antigas.

Supostamente meu nome deveria aparecer na ficha técnica (agora já não sei até que ponto isto é mau). Sem querer parecer desleal devo reafirmar que não me revejo neste trabalho audiovisual. Fui contratado para apontar os temas a serem abordados em São Vicente num documentário e em nenhum momento me foi dito que se tratava de uma “investigação jornalística” com estas características. Claro que desde o início sabia que não teria qualquer controlo sobre a edição ou o rumo do vídeo mas não era isto que estava a espera. Minhas dúvidas agora são:

1) quando o jornalista veio a Cabo Verde não sabia qual o programa que estava a produzir por isso filmou coisas desnecessárias e que não tinham nenhum interesse para a produção?;

2) o jornalista filmou coisas interessantes e que serviriam para o vídeo mas fez alguma asneira na filmagem ou perdeu os vídeos (e suas respectivas cópias)?;

3) o jornalista tinha uma agenda própria desde o princípio?


Contudo, o vídeo em si não fala mais do que aquilo que nós sabemos acerca dos problemas da delinquência juvenil e da falta de qualidade e quantidade da água. 

O vídeo esteve disponível durante um tempo através da conta de Djay Gomes mas foi retirado do Youtube por solicitação da produtora por razões de direitos de autor.



  1. Então foste enganado? Já não se fazem jornalistas como antigamente. E o código de ética foi para o raio que o partiu. A tua agenda é boa...deverias fazer o teu próprio doc.

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  2. Quando a esmola é demais, o Santo tem que ficar com a pulga atrás das orelhas!!!
    Este pode ser, ao meu entender, o que fazem com todos os países da África. Por isso, as imagens/vídeos que nós constumamos ver dos países Africanos relatam, na maioria, pontos negativos dos mesmos.

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  3. Mas não preocupas nós aprendemos com os nossos erros. Se eu fosse a ti se me fizessem outra proposta desta, levaria a minha própria câmara de filmagem ou ainda para remediar, o que já está feito, solicitar patrocínio para criar o seu próprio documentário, como disse alguem num post em cima.

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