Foi assim que fiz meu livro "A fita cor-de-rosa" | Dai Varela

31 de maio de 2014

Foi assim que fiz meu livro "A fita cor-de-rosa"


O meu livro “A fita cor-de-rosa” nasceu numa manhã após uma noite inteira ao trabalho como recepcionista num dos hotéis de Mindelo. Cheguei em casa e minha irmã Letícia estava a remodelar a casa e era meu amigo que fazia o trabalho de abrir buracos na parede. O barulho me incomodava tanto que não conseguia dormir. Na altura chateei-me com eles mas, olhando para trás e o resultado agora, só tenho a agradecer o facto de não me terem deixado dormir. O conto foi escrito todo naquela manhã. Incluindo as personagens que até hoje me pergunto de onde é que desencantei tais nomes. Até eu acho esquisito nomes como “Li-Rau Mau-Mau” ou “Li-Bai, o Pombo Pomposo”.

Capa final do livro "A fita cor-de-rosa" (quando o vires nas livrarias podes comprar, ok)

O primeiro lugar onde publiquei o conto foi no meu blogue. Minha irmã Nitcha disse-me se não tinha medo que alguma pessoa o copiasse para publicar. Respondi que, tendo em conta as dificuldades por que passava para encontrar financiamento para publicação, seria até uma certa alegria ver o texto em formato papel (mas depois me lembrava que teria outra pessoa a se passar pelo autor e mudava de ideia). Os incentivos para o tornar um livro surgiram de várias pessoas por isso resolvi perseverar na engenharia financeira. Entrei em contacto com o ilustrador, Rogério Rocha, e este aceitou fazer as ilustrações por um preço justo. Meu amigo Ivan Spencer, da produtora Imagina, Lda disponibilizou-se para paginar o livro. Imprimi no Mindelo em papel duro, recortei e encadernei sozinho. A primeira oferta foi ao Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, para ver se ele o lia e quem sabe sentir uma vontade incontrolável de o financiar (acho que não leu porque senão o teria apoiado). Fiz um projecto bonito e sai à procura de patrocínios ou apoios. Nada. Melhor, muitos elogios mas dinheiro que é bom, nada.

Uma das primeiras versões do livro encadernado por mim e oferecido ao
Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca. Espero que o tenha lido.

O livro, com 36 páginas, foi a concurso na Biblioteca Nacional de Cabo Verde e foi preciso esperar um ano para ficar a saber que não iam colaborar na sua publicação. Entretanto, o livro foi distinguido com uma das duas “Menções Honrosas” no Concurso Lusófono de Trofa – Prémio Matilde Rosa Araújo 2013, entre 252 outros textos de vários países. Foi, ainda, seleccionado pelo Ministério da Cultura, através do Ministério da Juventude, para ser apresentado na VI Bienal de Jovens Criadores da CPLP, no Brasil. Uma bela experiência que serviu para conhecer a criação dos jovens da lusofonia e adquirir contacto com outras culturas, essencial para quem quer ser criativo.

Boa primeira opção

Pelo caminho encontrei um site que faz impressão por encomenda. Aproveitei para fazer quatro exemplares mas vi que não compensava imprimir desta forma: se imprimisse uma grande quantidade o preço unitário seria mais barato mas as despesas de transporte seriam grandes; se fizesse poucas unidades o preço unitário ficaria muito alto. Decidi usar esses quatro livros para procurar financiamento. 

A primeira impressão por encomenda do livro "A fita cor-de-rosa"

Tempos depois apresentei o livro à empresa nacional de combustíveis, Enacol, e fizeram uma encomenda de 170 exemplares para distribuir às crianças em várias ilhas de Cabo Verde. Quem também se prontificou de imediato foi a empresa Life Anew (Sail Cape Verde) que encomendou 50 exemplares para oferecer às crianças em situação de risco do Centro Juvenil “Nhô Djunga”, no Mindelo. Mas como tinha que imprimir em Portugal e precisava trazer os livros, solicitei a TACV o transporte e logo sua Delegação Regional Norte aceitou fazê-lo de graça como forma de patrocínio.

Às empresas que acreditaram no projecto do livro "A fita cor-de-rosa", o meu profundo reconhecimento

Despesas imprevistas

Parece fácil mas não foi. Ao enviar o livro para orçamentar os 250 exemplares na gráfica aprendi que não se deve gravar as páginas em "spreed" antes de mandar. Este pequeno erro fez com que me enviassem um orçamento 20 mil escudos abaixo do preço real. Quando mandei o ficheiro final tive que desencantar mais duas dezenas de contos não previstos. Com os exemplares prontos, nova surpresa: na Europa qualquer carga tem que passar por um transitário antes de embarcar no avião. Resultado: mais 17 mil escudos não previstos para a encomenda sair das terras lusas (novamente contei com o apoio da TACV para reduzir os custos). Já com os livros em São Vicente fui comunicado pela Alfândega que teria que pagar 30% sobre o valor orçamentado na gráfica mais o frete do transitário. Ainda seria aplicada a Taxa Comunitária que é de 0,5% sobre o custo mais o frete. Caso o volume fosse enviado para um despachante teria que pagar mais seus honorários e despesas. O valor deveria rondar os 18 contos mas disseram-me que minha sorte era que livros não pagam IVA ou direitos aduaneiros. Ainda brinquei com a senhora e lhe disse que, depois de todas estas despesas, se não ficar rico com a venda dos livros já não sei como é que será. 

O livro está à venda online para ser entregue na sua casa

No final descobri uma das maiores lojas onlines do Mundo, a Amazon.com, e consegui publicar meu livro com uma certa facilidade. Neste momento o livro está à venda por 3,65 dólares e com mais as despesas de envio pode chegar a casa de qualquer pessoa. Apenas tenho que me preocupar com a minha comissão porque da impressão e envio tratam eles. E ainda é possível comprá-lo apenas no formato digital para se ler nos dispositivos móveis.

A versão digital do livro "A fita cor-de-rosa" pode ser adquirido aqui

O livro se encontra esgotado (um bestseller crioulo, kkkkk) mas se não fosse pelas despesas imprevistas teria possibilidade de fazer nova edição. Mas agora vou apostar na venda online e a impressão por encomenda para dar resposta aos vários pedidos que tenho recebido. Quem sabe não aparece um mecenas cultural disposto a apostar neste projecto e consiga fazer a obra chegar a milhares de crianças, jovens e adultos por este Mundo.

Ganhei um pouco de experiência nesta fase. Hoje sei um pouco do caminho a percorrer para produzir um livro sem editora e sei também publicar meu livro online. Muito agradecido por todos aqueles que deram seu contributo para tornar este meu sonho realizado.

Agora fico à vossa espera para a apresentação (quase não terá coffee-break):

Olha eu 'bunitinho' na foto do cartaz de apresentação do livro


Até a próxima aventura...

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