Ilha-cicatriz (em memória dos que perderam a vida em Mindelo) | Dai Varela

2 de fevereiro de 2025

Ilha-cicatriz (em memória dos que perderam a vida em Mindelo)

Cemitério de Mindelo - São Vicente


Na ilha a tristeza caminha com passos de luto.

De longe o vento carrega as vozes que se apagaram deixando cicatrizes emocionais.

No barco que parte para todo o sempre,
as velas se curvam sob o peso do não dito

E do sal do mar que nos cerca, se misturam as lágrimas dos que de repente partem

Da ‘carga de quatro’ se carregam histórias de amores perdidos, de entes devastados num luto coletivo.

Dos que ficam na praia das ausências, os olhos marejam pelo horizonte sem retorno, pois todos carregamos no peito o naufrágio inevitável.

Risos e promessas perdidas na imensidão do não-ser no cais da vida transformam-se nas marcas do luto.

Somos eternos aprendizes que nem todo sofrimento cabe em palavras.

O mar, sempre guardião dos silêncios,

torna-se velho confidente da dor por aqueles que partiram sem dizer adeus.

Hoje a ilha é também memória de dor.


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Dedico estas palavras à memória dos que partiram inesperadamente no acidente em Mindelo neste domingo, deixando um vazio imenso nas suas famílias e na nossa comunidade. Aos sobreviventes que ainda lutam pela recuperação, envio força e esperança.

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