“Nô salvá Laginha” é o grito para a luta contra as obras na praia | Dai Varela

10 de julho de 2013

“Nô salvá Laginha” é o grito para a luta contra as obras na praia


O alerta é lançado por Guilherme Mascarenhas que chama o povo em Mindelo para lutar pela praia da Laginha, a mais emblemática da ilha de São Vicente. Neste momento a praia está a receber obras para a construção de uma barragem (ou esporão) e parte dela está interdita aos banhistas desde esta quarta-feira (10). Deixo aqui no blogue as informações acerca da manifestação e as razões do protesto. Estarei lá também!

As obras já arrancaram no lado Sul da praia da Laginha para a construção da barreira (ou esporão)

Começou a "destruição" da Laginha.
Apelamos a todos que são contra a obra que se dirijam para a Laginha, se possível, com uma camisola branca e/ou uma folha de papel branco na mão para se distinguir dos demais.

Levem cartazes escritos “Nô salva Laginha”. Mantenham-se todo o tempo que puderem enquanto não anunciarem publicamente que vão desistir do projecto.

Não deixem de ir pois amanhã poderá ser tarde demais e teremos destruído uma das melhores riquezas desta ilha.

Todos os dias às 18 horas e 30 minutos faremos um cordão humano para mostrarmos quantos somos

Não esperem por mim nem por ninguém pois a Laginha é de nós todos.

Façam cópias deste documento e distribuam e sejam pacíficos para não perdermos razão.

O local já está vedado para as obras

11 Razões por Laginha

Onze razões para não fazer o “alargamento do areal da Praia e construção do esporão a Norte da Laginha” (prováveis efeitos da obra):

1. Não é uma prioridade para uma ilha ainda com muitas carências tais como iluminação pública deficiente, ruas sem pavimento e passeios pedonais, etc. Para além disso importa considerar que a verba utilizada nessas obras, que muito provavelmente será paga por nós todos e com muito sacrifício, principalmente nesta ilha que detêm o record de desemprego do país, poderia ser utilizada para estudar e implementar formas de redução da poluição na praia, para estudar bem a sua biodiversidade, para beneficiar a sua orla marítima, nomeadamente recuperar o “tanquin” e o trampolim da Matiota, para financiar um catálogo das espécies marinhas da Laginha e uma microempresa de mergulho ecológico, ou então em muitas outras obras de que carece a cidade tal como calcetamento e iluminação públicas.

2. Não foi feita nenhuma avaliação de impacto ambiental adequada como exigem as leis do nosso país e o parecer de técnicos do INDP, não divulgado, foi contra.

3. Aniquilará, por soterramento, parte significativa da comunidade coralina e aumentará o stress da restante, reduzindo a biodiversidade e a vida marinha no local, com consequentes impactos negativos na pesca convencional e submarina, e no mergulho (ecoturismo e científico); Destruir uma comunidade coralina é como destruir a vegetação numa floresta tropical, aniquilando/afugentando a vida do local, com a agravante que os corais crescem muito devagar (para siderastreia radians, o coral dominante na área em causa, taxas de crescimento típicas são da ordem dos milímetros por ano). Note-se ainda que preservando e protegendo a praia da Laginha será mais um factor para atrair os cruzeiros ao Porto Grande e até poderemos imaginar um slogan dizendo “ …a poucas dezenas de metros do Porto, o visitante pode desfrutar das águas cristalinas da praia da Laginha, onde com apenas uma máscara de mergulho e um tubo pode-se visualizar mais de 80 espécies de peixes, incluindo 11 dos cerca de 20 peixes costeiros endémicos de Cabo Verde, e ainda três tartarugas verdes, espécie ameaçada de extinção, residentes na praia, corais, esponjas e outras espécies marinhas”.

4. Afectará as ondas, na parte norte da Laginha, “verdes, cristalinas e perfeitas” segundo Rita Pires, campeã portuguesa de bodyboard (www.aondadarita/2013/cabo-verde-episodio-4), e “provavelmente as mais perfeitas de S.Vicente”, segundo Flávio Fortes, conhecido bodyboarder da ilha. Uma vez que não houve estudos adequados deve-se considerar a hipótese de deixar de haver ondas adequadas para a prática do bodyboard e surf, com consequentes impactos na prática desses desportos, já que é a única praia da cidade com condições para a prática do surf e bodyboard, obrigando os nossos “wave riders” a dispender mais tempo e ficar sujeitos a ter de pedir boleia ou gastar dinheiro em transporte, para deslocar às praias fora da cidade.

5. Possibilidade de diminuição da profundidade do arrastadouro da Cabnave e soterramento de uma das tomadas de água da Electra, já que o mar poderá movimentar a areia da praia para esses locais. Uma vez que os estudos constantes nos relatórios apresentados, não consideram o aumento do areal, não se pode saber o que poderá acontecer com o areal. Segundo José Fortes Lopes, expert na área, “só uma análise ponderada e com base nas cartas de correntes, permitirá saber em que sentido será o transporte induzido, além de que depende do ciclo da maré. E este é um aspecto que pode complicar o problema pois as correntes de maré alternam duas vezes durante o dia, impactando duplamente, nos dois sentidos, uma área.”

6. Possibilidade de diminuição da qualidade da água potável produzida pela Electra que abastece toda a ilha de S.Vicente já que o índice de agitação do mar diminuíra nos pontos, ou na proximidade, das tomadas de água da Electra, uma no mar, a uns 2-3 metros de profundidade (que alimenta o sistema de destilação que é utilizado quando o sistema de osmose inversa não consegue responder à demanda), e outra, um furo de 25 metros de profundidade, localizada a cerca de 3 metros do mar (que alimenta o sistema de osmose inversa),

7. Aumento da incidência de doenças transmitidas através da areia, que devido ao aumento da sua extensão, já não poderá ser lavada pelo mar, agravadas pelo facto da areia ser proveniente do cais de pesca do Porto Grande, local sujeito a poluentes de vária ordem;

8. Diminuição da segurança dos banhistas, pois com o aumento da distância do areal o mar ficará mais distante do passeio pedonal, sujeitando os banhistas nocturnos (comuns no verão a qualquer hora da noite) a assaltos, etc;

9. Possibilidade de aumento do declive na região de entrada na água e consequente diminuição de segurança para banhistas que não saibam nadar ou que tenham dificuldades motoras, nomeadamente crianças, idosos, portadores de deficiência física, doentes, etc;

10. Interdição aos banhistas de tomarem banho na praia durante parte das obras;

11. Ruídos e poluentes durante as obras.

A vedação vai até ao mar

Para terminar segue o seguinte texto (Extraído de [Costeau, Schiefelbein, 2007]):

“O saque começa onde a vida começou: nos berçários do mar. A vida multiplica-se em três áreas distintas dos oceanos: nas águas da superfície, que são penetradas pela luz do Sol, onde desabrocha a vida das plantas; no fundo, onde assentam os detritos orgânicos; e na área onde se combinam estes dois factores de sustento da vida, a plataforma continental, que principia na beira da água e se prolonga até profundidades que atingem cerca de 180 metros. Como escrevi antes, a zona mais frágil das plataformas continentais é também a sua zona mais fértil: as águas costeiras de pouca profundidade. A vida marítima acumula-se na orla costeira tal como a vida terrestre se junta na margem do rio; é ai que os peixes se alimentam da flora e põe os seus ovos nos prados marítimos onde prolifera a planta aquática possidónia. Estas águas, que são apenas metade de 1% do espaço total do oceano, sustentam 90% de toda a vida marítima. No conjunto, segundo já calculei, as orlas costeiras têm, em todo o mundo, menos hectares do que todos os rios do mundo.

É precisamente nestas orlas costeiras, tão reduzidas, que os saqueadores causam maiores estragos...”

No qual se constata que são as orlas costeiras que sustentam 90% de toda a vida marítima, dai que mexer nelas só em casos extremos, após se esgotarem outras alternativas.

Assim questionamos: ter mais de 60 metros de areal será uma necessidade extrema e tem mais peso do que as onze razões citadas?

Mindelo, 10 de Julho de 2013

Guilherme Mascarenhas


Agora veja como deverá ficar a praia da Laginha após as obras

Supostamente é assim que Laginha irá ficar
Vista aérea da Laginha após conclusão das obras
Se notarem, no lado esquerdo, pode-se ver a barreira (esporão) que está a ser construída
  1. Ivalindo Fortes Santos11 de julho de 2013 às 15:51

    Mas ninguem se preocupa com a limpeza da praia nesta altura balnear, e a sujeira nao foi colocada pelas obras!

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