Princezito, o pescador de poesias que não quer ser famoso | Dai Varela

11 de junho de 2013

Princezito, o pescador de poesias que não quer ser famoso


"Conheci o “piskador di poesias” em Maio de 2011 no Mindelo e numa conversa agradável Princezito contou-me que não quer ser famoso porque a fama pressupõe uma série de manias e bazofiarias, coisas que não tem. “Gosto de ser popular assim como eram Manel d’Novas ou Nha Nácia Gomi. Eu não quero ser famoso como essas estrelas pop. Gosto de
Princezito investiga contos e provérbios populares
para declamar em poesias
ser admirado sim, mas também gosto de admirar”, diz-me este artista que como o vento não se deixa aprisionar.

Em pouco tempo nota-se que a tranquilidade é uma das suas maiores características e isto faz com as pessoas se aproximem de Princezito com facilidade. Se senta na pracinha, a cada dez minutos chega uma pessoa para o cumprimentar e sentar-se para lhe falar. “Acho que a minha traquilidade atrai as pessoas”, admite Princezito que aponta a calma do pai e da mãe como uma das causas. O lugar onde nasceu, o pacato e outrora tranquilo concelho de Tarrafal de Santiago e a grande convivência com o mar também moldaram sua personalidade. A sua ligação com o mar o fez um pescador por hobby mas por agora tem dedicado mais tempo à pesca de poemas.

Princezito declamando a poesia/finason 'Parlamento', 
nas comemorações dos 20 anos da Revista "Artiletra" na cidade do Mindelo

Activista cultural por opção e vocação, Carlos Alberto Sousa Mendes, de nome de baptismo, formou-se em Laboratório Clínico mas entende que dará melhor contributo na arte. Tem um percurso dedicado à melopéia, terminologia que vem do latim e que significa versos cantados, o “pescador de poesias” é um dos grandes divulgadores do finason (que faz a leitura declamada dos poemas) e também do género quente do batuko.

Desde 2000, Princezito iniciou a divulgação do batuko para o tornar mais conhecido. Um contributo que se pode notar pelo aumento dos jovens que se interessam pelo género e que dedilham nas suas guitarras composições de Pantera, Vadú, Tcheka e do próprio Princezito. “Há alguns anos atrás isso era impossível. Isto porque se Cabo Verde tivesse uma política cultural eu a chamaria de estúpida, mas como não tem... Repara, só por um palmo de água a separar-nos, parece que vivemos em dois países diferentes. As pessoas de São Vicente conhecem mais música do Brasil do que de Santiago. E o contrário também acontece”, afirma.

Princezito declamando a poesia "Quarta Classe"
Nas comemorações dos 20 anos da Revista "Artiletra" na cidade do Mindelo.

Gravou o seu álbum a solo “Spiga” (2008) em São Vicente com a direcção musical de Hernâni Almeida e revela que foi um sonho realizado. “Era isso que eu queria, até já tinha pedido ao nhor Deus para que no dia que gravasse que seria em São Vicente e cinco ou seis anos depois aconteceu”, diz-me o cantor que considera que no Mindelo é possível sentir a vibração do batuko de uma forma mais intensa. “É como se de um espelho se tratasse. Tive que afastar-me para ver melhor. Na pintura é a mesma coisa: pinta-se e depois dá-se sete palmos para trás para observar melhor a tela. Foi isso que aconteceu comigo. Dei sete passos para trás e distanciei-me do meu umbigo para poder ver melhor”, afirma.

Mesmo após alguns anos sem gravar, princezito diz-me que não tem pressas para entrar no estúdio. “Acho que não há tempo de mais nem de menos para lançar. Depende, em primeiro lugar, das tuas propostas e se as aceitas ou não”, explica o artista que encontra-se, por agora, apenas em palco. 

A sua composição "Lua" é uma das minhas preferidas e aqui ele foi chamar uma das talentosas beldades crioulas, Mayra Andrade, para o ajudar a cantar na Gala Armunia 2010.

  1. Grande Princesito, pois continua a tua caminhada, e a identidade porque anda por ai, e aposto que vais encontra-la. One Love.

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