NOTA: Este texto faz parte da minha Monografia “Problemas Associados à Credibilidade do Jornalista/Blogueiro: estudo exploratório do blogue ‘Kriol Rádio’”, apresentada na Universidade Lusófona de Cabo Verde (01/01/2013).
Não
existem estudos sobre os primeiros jornais online em Cabo Verde, entretanto, de
acordo com Landim[1]
(2012, p.53), o primeiro jornal online de Cabo Verde data de Agosto de 2002
através de uma iniciativa privada da empresa Tudo Directo que se lançou na frente; mas, apesar do sucesso
aclamado pelos promotores, o projecto deixou de ser estratégico para os
intentos da empresa proprietária do website. Assim, a Tudo Directo decidiu, em 2005, juntar-se ao website Paralelo14.com. Posteriormente, afirma a
autora, surgiram os jornais online Expresso
das Ilhas (2003), A Semana
(2003), o Liberal (2006), A Nação (2009). Além desses jornais
online ainda existem no país outros jornais como Oje, Forcv, Visão News e
Notícias do Norte, de acordo com o Inquérito à “Satisfação e Audiometria dos Órgãos de Comunicação Social”
realizado pela Direcção Geral da Comunicação Social do país, actualizado em
Agosto de 2011.
A
maioria destas publicações online surgiu com vários blogues associados a elas
na primeira página, o que ajudou na promoção e divulgação daqueles que viriam a
tornar-se como as referências em Cabo Verde. Não há dados ou estudos sobre os
primeiros blogues cabo-verdianos, mas uma pesquisa rápida pela blogosfera
crioula mostra que os mais antigos, activos ou não, datam de 2004, como é o caso
do blogue da jornalista Matilde Dias <www.lantuna.blogspot.com>.
Actualmente, o que se tem verificado em Cabo
Verde é um certo encorajamento dos medias
tradicionais que divulgam os artigos publicados nos blogues (como era o caso do
jornal A NAÇÃO no seu espaço “Blogosfera”, uma página que semanalmente
acompanhava o que diziam os principais blogues cabo-verdianos e também a Rádio
Morabeza, que nas primeiras horas da manhã fazia uma ronda pelos blogues e dá
conta do que falam os mesmos) e um estímulo que também se verifica nos media
online que usam os blogues como fontes nas notícias publicadas nos jornais
digitais (aqui a responsabilidade passa para o órgão que edita o texto).
Pode-se
também verificar que a maioria dos jornais online nacionais traziam ou trazem
ligações para blogues, o que demonstra uma certa “validação” destes espaços por
parte dos responsáveis dos medias
tradicionais. Desde o primeiro momento alguns blogues foram “adoptados” pelos
jornais, com uma clara vantagem para os primeiros, mesmo que Paulo Serra
(2006c) fala numa vantagem mútua quando estuda o impacto dos blogues nos
jornais, nomeadamente:
i) Para os “mainstream media” (MSM):
o aumento do grau de interactividade – de envolvimento e participação – dos
seus destinatários; a possibilidade de acesso a um maior número e a uma maior
diversidade de destinatários; a oferta de uma informação mais rica e
diversificada;
ii) Para os blogues: a aquisição ou
confirmação de uma credibilidade atribuída pela credibilidade própria dos MSM
que os acolhem – e, por conseguinte, a sua “institucionalização”; tal como para
os MSM, também o acesso a um maior número e a uma maior diversidade de
destinatários. (Paulo Serra. Internet e mediamorfose: o impacto dos blogs nos jornais, p.12).
Entende-se
esta adopção porque os media
tradicionais sempre tiveram a tendência natural de considerar atraente os
avanços tecnológicos e o facto de Cabo Verde ter entrado na onda da blogosfera
é sempre algo a assinalar para demonstrar o nosso suposto nível de
desenvolvimento.
Entretanto,
alguns jornalistas profissionais (Carlos Santos, Fonseca Soares, Margarida
Fontes, Matilde Dias, Susana Rendall Rocha, Nuno Andrade Ferreira, Maria José
Macedo, Francisco Delgado, Soraia de Deus, Álvaro Ludgero Andrade, etc.)
adaptaram-se também às exigências dos novos tempos jornalísticos e criaram seus
próprios espaços multimédia onde produzem ou produziram textos apelativos e
adaptados procurando não se restringir às exigências formais do jornalismo. É
esta facilidade de publicar que torna os blogues atractivos e lhes dá um
aspecto distinto da situação encontrada no horizonte do jornalismo, como afirma
a estudiosa Concha Edo quando fala da apropriação dos blogues pelos
jornalistas:
Los periodistas, independientemente de que trabajen en un medio
concreto con mayor o menor audiencia o lo hagan ejerciendo de freelance, han
elegido en muchos casos otro tipo de personalización periodística que consiste
en tener un site propio en Internet. Una página desde la que pueden ofrecer sin
ningún tipo de límites sus informaciones o los rumores a los que han tenido
acceso. (Concha
Edo. El periodismo profesional y el
desafío de los blogs. Universidad Complutense de Madrid,
p.7).
Por
serem locais que envolvem uma audiência, quer pelo seu conteúdo especializado,
quer pelo seu teor artístico, Catarina Rodrigues (2006) nota que os blogues
mais populares, que merecem mais considerações e ecos por parte dos media tradicionais, são de facto
“aqueles cujos autores já são conhecidos da vida pública, ou seja, aqueles que
já têm visibilidade e até são merecedores de alguma credibilidade por parte do
público. Outros há também que, de simples anónimos, passaram a ser conhecidos
por intermédio do seu blogue e agora intervêm, também, através da opinião
publicada em jornais.”
Em Cabo Verde, são os casos da entrada de figuras conhecidas na área das artes (Tchalé Figueira, João Branco, Kaká Barbosa), política (Humberto Cardoso), académicos (Brito Semedo, Silvino Évora) ou de activismo social (César Schofiel Cardoso, Redy Lima e Carlos Mendes) que ajudaram a dar maior visibilidade à prática de “blogar”. Os blogues foram neste caso o impulso para a inserção de determinadas personalidades no espaço de visibilidade mediática (Carlos Mendes, autor do blogue “Diário de um Thug”). Outro exemplo é o das personalidades que abandonam as suas colunas de opinião em jornais e criaram os seus blogues pessoais (Carlos Santos, autor do “Kriol Rádio” e Abraão Vicente, autor do blogue com o mesmo nome).
[1] Ana Bela Landim. Jornalismo
Online em Cabo Verde. Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas –
UTL. Lisboa. 2012, p.53.