A Internet em Cabo Verde | Dai Varela

30 de julho de 2012

A Internet em Cabo Verde

NOTA: este texto faz parte da minha monografia intitulada "Problemas Associados à Credibilidade do Jornalista/Blogueiro - Estudo exploratório do blogue “Kriol Rádio


Para uma melhor compreensão do processo de modernização da infra-estrutura tecnológica de Cabo Verde é preciso descrever, sumariamente, as etapas que o país percorreu até aqui. A introdução de Cabo Verde nas telecomunicações data de 1874 (Évora-Sagna et al. 2002; p.10) quando se tornou um ponto de conexão (na Praia da Matiota – São Vicente) do primeiro cabo telegráfico submarino instalado entre a Europa e o Brasil. Os primeiros telefones foram inaugurados em 1919. Entretanto, pouca coisa foi feita para expandir as telecomunicações no meio século seguinte. Em 1960, havia 188 telefones em todo o país e a primeira central telefónica automática foi estabelecida apenas um ano depois. Desde a independência em 1975, as coisas mudaram com uma aposta na política de regulamentação do sector das telecomunicações que definiu-o como crucial para o desenvolvimento do país e a sua promoção tornou-se altamente prioritária.


1.1. A Internet em Cabo Verde

Embora a Internet não seja especificamente o objecto de estudo a ser desenvolvido neste trabalho, trataremos aqui de boa parte da sua trajectória e filosofia em Cabo Verde. A existência desse “novo” meio de comunicação implicou e implicará uma série de mudanças no quotidiano dos seres humanos ao redor do mundo e os cabo-verdianos não fogem à regra. A vida diária do povo das ilhas sofreu uma “revolução” ocasionada pelas máquinas hoje presentes nos escritórios, domicílios, universidades e repartições públicas e nas vitrinas das lojas a um preço acessível a uma franja da sociedade e com facilidades garantidas.
Cabo Verde, como em todos os lugares do mundo, tem vivido a sua porção da história da Rede Mundial de Computadores, apesar de nossa realidade socioeconómica não ser tão favorável quanto nos países desenvolvidos. No entanto, como a tecnologia da informática sofre uma evolução diária e seu grande poder de actualização torna os preços acessíveis a uma camada cada vez maior da população, muitos são os cabo-verdianos que usam a Internet diariamente para, inclusivo, consultar jornais online e comentar suas notícias ou criar e/ou consultar blogues. É esta grande facilidade encontrada na blogosfera que atraiu também os jornalistas e alguns deles apoderaram-se desta ferramenta para fazerem suas opiniões serem ouvidas por outra audiência.

Todavia, em Cabo Verde a Internet só chega no ano de 1996, pela empresa Cabo Verde Telecom[1] e suas actividades comerciais iniciam-se em 1997 com uma Linha Dial Up[2] com uma baixa velocidade, através do serviço de Internet profissional, TELEPAC. Estes dois primeiros anos são considerados como experimentais, mas mesmo assim Cabo Verde é o 29º país africano a receber esta tecnologia. De acordo com a ANAC[3] (disponível online) No início do processo existia 220 computadores em todo o país, na maioria pertencentes aos organismos do Estado, encontravam-se ligados à rede a título experimental. Desse total, a cidade da Praia detinha 160 computadores; Mindelo, 50; e os restantes 10 computadores nas outras ilhas. No mesmo ano (1997) passaram para 474, na maioria residentes na cidade da Praia. Contudo, só em 1999, quando os clientes atingiram os 1645, é que há clientes do Mindelo também, sem ser ligados ao Estado. Mais tarde o serviço chega a outras ilhas.
A instalação efectiva foi feita em três fases, conforme a página web da ANAC (disponível online):

A primeira fase foi em 1998 com a instalação do primeiro Router na Praia onde foi feito a conversão de RDIS primário, utilizou-se a DIAL-UP analógico 56Kbs e digital 64 Kbs. Haviam aderido ao serviço cerca de 1139 clientes.

Em 1999, foram instalados dois Routers com conversão RDIS primária, na Praia e no Mindelo, com acesso a DIAL-UP e IP. Foi a segunda fase de implementação da Internet. Já, nesse ano, haviam aderido cerca de 1654 clientes.

A terceira fase foi a da expansão do serviço a todas as ilhas de Cabo Verde. Aumentou a amplitude da banda para 1 Mbps (adesão ao serviço MIDGLOBAL-MARCONI). A CVTelecom serviu também de backbone à rede Internet do governo (256kbs) a 10000 utilizadores. Nesta fase, a CVTelecom já tinha conseguido 1863 clientes.

A partir de 2004, foi introduzido o serviço de acesso a Internet em banda larga com a tecnologia ADSL. Neste ano, cerca de 283 clientes aderiram ao serviço da banda larga, com um aumento significativo, em 2005, passando para 937 clientes. Neste ano, devido ao aumento de tráfico de navegação na Internet, a gateway internacional passou para 10 Mb/s. (Agência Nacional de Comunicações de Cabo Verde. Internet/Descrição. Disponível em <http://www.anac.cv/index.php?option=com_content&view=article&id=52&Itemid=200059> Consultado em: 15 de Setembro de 2012)


O quadro legal para a prestação do serviço da Internet em Cabo Verde privilegiava, até 2006, o monopólio da empresa Cabo Verde Telecom. Mas, após alguns anos verifica-se uma crescente liberalização do mercado que permitiu o aparecimento de duas empresas concorrentes: a Cabocom (Sal) e a CV Wifi (São Vicente). Estas  iniciaram actividade durante o 2º trimestre de 2008 sendo que a grande mudança aconteceu ao nível da oferta do VoIP (Voice over Internet Protocol) e ADSL para cujo segmento estão licenciadas mais três  outras empresas: a MB Investimentos, a CV Satélite Wireless e a Cabo TLC. Esta última já a actuar nas ilhas de Santiago e São Vicente (onde tem sede com abrangência nacional) desde que recebeu em Março de 2012 a autorização da Agência Nacional de Comunicações para início de actividade de oferta de redes e serviços de comunicações electrónicas acessíveis ao público, nomeadamente VOIP. A própria CV Telecom prepara-se para oferecer este tipo de serviço ao tornar sua rede híbrida, o que lhe permitirá oferecer tanto o telefone fixo como o VoIP.
No final do ano de 2007 havia em Cabo Verde apenas 6.308 assinantes do serviço Internet, a maior parte ainda a utilizar o serviço dial-up, ou seja a ligação lenta através do telefone. No entanto a ANAC[4] nota que de 2006 para 2007 o serviço dial-up decresceu 39 por cento e que o serviço ADSL (Internet rápida) subiu 111 por cento. Em 2008 havia 3.465 assinantes de Internet lenta e 2.833 de Internet rápida.
Entretanto, o uso da Internet não foi generalizado de imediato devido, essencialmente, a uma fraca política de divulgação. Alguns dos principais entraves ao desenvolvimento da coesão digital continuam a ser os preços e a qualidade do serviço. Não obstante as reduções de custos ocorridas nos últimos anos, os preços de acesso à Internet continuam fora do alcance da maioria dos cabo-verdianos, tornado o acesso à Internet no país um privilégio de poucos.

De acordo com a ANAC, a evolução do mercado que coloca Cabo Verde como o 4º país africano (2011) com maior taxa de penetração,  tem vindo a fazer-se da seguinte forma:


Tabela 1: Quadro da evolução dos assinantes da Internet em Cabo Verde

Ao longo desses anos Cabo Verde conheceu avanços vários que possibilitaram a sua ascensão como um dos quatro países africanos com maior taxa de penetração do uso de Internet, segundo o NOSI[5] (online, 2011). Ocupa o quarto lugar com 30%, ficando atrás apenas de Marrocos (49%) Seychelles (41.0%) e Tunísia (36.8%).

Cabo Verde tem vindo a registar um aumento considerável da taxa de penetração do uso da Internet, passando de 1.6% em 2000 para 20% em 2008. De 2008 para 2010 o aumento foi de 10%, fixando o índice em 30%. Estes indicadores se explicam pela aposta que tem sido feito em garantir a acessibilidade para todos, nomeadamente, através do Projecto Konekta, que tem possibilitado o acesso gratuito a Internet em mais de 30 praças digitais já existentes e espalhadas por todo o país. (NOSI. Online, 2011)


Estes dados divulgados no relatório anual de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) “Medindo a Sociedade de Informação 2011” da União Internacional das Telecomunicações mostram que o acesso da população às TIC’s em Cabo Verde está aumentando cada vez mais. Contudo, considerando o estado de desenvolvimento das infra-estruturas de telecomunicações em Cabo Verde e a adesão que se verifica noutros serviços de telecomunicações, presume-se que penetração da Internet ainda seja inferior ao potencial existente. E como não poderia deixar de ser o jornalista é um dos maiores consumidores deste produto e tem-se servido dele para pesquisar, produzir e publicar informações, em jornais online ou em blogues.

Os dados mais recentes sobre a utilização da Internet pelos cabo-verdianos são fornecidos pela pesquisa, “Estado da Banda Larga 2012”, um trabalho desenvolvido pela agência das Nações Unidas para a Informação e Tecnologias da Comunicação (ITU) e que colocou Cabo Verde na 91ª posição dos países que mais usam Internet no mundo. São 32 por cento de pessoas “online”, número ligeiramente inferior à média mundial que é de 32,5 por cento, indica o estudo divulgado pela ONU que avaliou 177 países de acordo com as suas políticas de banda larga e o impacto que o acesso à Internet está a ter na vida das pessoas. Estes números representam um crescimento exponencial do sector nos últimos anos, provavelmente graças ao projecto Koneckta, que possibilita aos jovens o acesso gratuito à Internet nas praças digitais espalhadas em todos os municípios do país.

 

Internet em Cabo Verde

Subscritores da banda larga fixa (com fio) por 100 habitantes

4.3

Percentagem de residências com Internet – países em desenvolvimento

8.5

Subscritores de banda larga móvel activa por 100 habitantes

3.0

Tabela 2: dados do “Estado da Banda Larga 2012”


Na África, Cabo Verde é o sexto país com maior utilização, atrás de Marrocos, Seychelles, Tunísia, Egipto e Ilhas Maurícias. Nos países de expressão portuguesa, o melhor colocado é Portugal, está em 50º posto, são 55,3 por cento da população que usa a Internet. Segue-se o Brasil no 66º lugar, com 45 por cento de utilizadores "online". Mas daqui para baixo o fosso é ainda maior. São Tomé e Príncipe, em 112º lugar, com 20,2 por cento, Angola está na 125ª colocação (14,8 por cento), Moçambique em 155º lugar (4,3 por cento) e Guiné-Bissau no 163º posto (2,7 por cento). Timor-Leste ocupa o último lugar da tabela (177º), com apenas 0,9 por cento de pessoas ligadas à Internet. Marrocos é o país africano que mais usa a Net. Está na 57ª posição, com 51 por cento de utilização. Nota-se ainda que a média mais baixa de uso da Internet regista-se em países africanos.



[1] Cabo Verde Telecom (CVT) é o principal fornecedor dos serviços de telecomunicações e foi criada em 1995 quando foi separado dos serviços postais dos Correios. Foi parcialmente privatizada em Dezembro de 1995, quando 40 por cento foram vendidos à Portugal Telecom por US$20 milhões (ÉVORA-SAGNA et al. 2002; p.12).

[2] É um tipo de acesso à Internet no qual uma pessoa usa um modem e uma linha telefónica para se ligar a um  de uma rede de computadores do provedor de Internet (neste caso a CVTelecom).

[3] Agência Nacional de Comunicações de Cabo Verde. Internet/DescriçãoConsultado em: 15 de Setembro de 2012)

[4] ANAC, op. cit.

[5] NOSI – Núcleo Operacional da Sociedade de Informação. Cabo Verde é o 4º país africano com a maiortaxa de penetração do uso da Internet Consultado em: 20 de Julho de 2012.


  1. Respondendo ao desafio lançado na pergunta final do texto, posso dizer que o número de utilizadores cabo-verdianos da Internet já justifica uma visita ao melhor (e único) blogue da Praia de Bote, o PRAIA DE BOTE, que pode ser encontrado em http://www.mindelosempre.blogspot.pt/

    Braça,
    Djack

    ResponderEliminar
  2. Bom, pelo menos uma pessoa consegui chegar até ao fim. Só por isso vou ver teu blog (outra vez)
    Braça

    ResponderEliminar
  3. ê um txt cumprido di verdadi, ma ce leitura ê prazeirosa. Mas nka sta bem alêl otu bes...kkk
    ABC

    ResponderEliminar
  4. É lamentável, pela posição estratégica que Cabo verde se encontra em relação aos continentes, que ainda temos um serviço de Internet de baixa qualidade. Impossível manter uma Empresa de TI que necessite de conexão à internet 24h/dia com os planos oferecidos pela Cv Telecom. Um absurdo e ainda mais nunca é oferecido o plano contratado. Para quem deseja aventurar nesse ramo, vai encontrar muitas barreiras e dificuldades em oferecer um serviço de qualidade ao cliente; não sei se isso um dia vai mudar, mas enquanto existir esse monopólio, creio que apenas sonharemos ter uma conexão boa por um preço justo...

    ResponderEliminar

Whatsapp Button works on Mobile Device only

Start typing and press Enter to search