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- Não aguento mais. Eu não suporto aquela “bruxa”. Bem que eu disse ao meu pai para não casar com ela. Agora veja: uma rapariga como eu, sem dinheiro e a depender de uma mulherzinha insuportável – Cármen estava furiosa. Detestava a sua madrasta e depois que o seu pai morreu tinha que, obrigatoriamente, obedece-la em tudo.
- Não fiques assim meu amor. Um dia estarás livre de tudo isto e nós dois vamos viver a nossa vida sem intromissões – consolou-a Calú, filho da empregada da casa, um jovem ambicioso e interesseiro.
Calu e Cármen mantinham uma relação em segredo já há 1 ano. Ninguém desconfiava. Cármen fazia tudo pelo Calú porque estava perdidamente apaixonada por ele. No entanto o que o Calu queria era se apossar de tudo o que era dela.
- Livre? Não vejo como ficar livre desta agonia. Os tiques dela irritam-me – a raiva e revolta das suas palavras transpareciam nos seus olhos negros e grossos – Se não fosse esta “ dmona” tudo o que era do pai seria meu, sem divisões.
Calu observava-a atentamente. Alto, forte e bem-parecido, nem parecia que carregava tanta maldade dentro de si. A sua mãe chorava todos os dias por ter tido um filho assim. Calu queria mais, muito mais. Tudo o que o importava era “ dnher”. Via na Cármen a oportunidade que esperara. O problema era a velha. Tinha de ver uma forma de a retirar do caminho.
- Há uma forma de veres-te livre desta velha e tomares tudo o que é teu – começou com uma cara séria – Diga-me uma coisa. Estás disposta a tudo?
- Sim…estou mas … o que é que poderíamos fazer? Não estou a ver… - exclamou meio duvidosa.
- Imagina…e se, de repente a Dona Eva Sequeira fosse encontrada morta? Sozinha no quarto, sem vestígios nenhuns… - esfregou as mãos e fixou os olhos num canto do quarto como se estivesse a presenciar tudo – fazemos tudo muito discreto assim como fazemos com a nossa relação. Ninguém descobrirá que fomos nós. Agora… - hesitou um pouco ao ver a cara de espanto da Cármen – precisamos de uma ocasião perfeita.
Cármen não queria fazer aquilo. Era pesado demais. Matar? Nunca passou pela sua cabeça. Começou a andar em zigue-zague pelo quarto, toda nervosa. Calú abraçou-a e disse:
- Amor, tu é que sabes. Eu só disse aquilo porque não suporto ver-te a sofrer… agora cabe a ti escolher o que queres fazer.
- Se bem que … - começou a tremer – não tenho mais nada a perder. Amanha há uma festa na nossa casa em Baia das Gatas. Será a ocasião perfeita. Mas como é que o faremos?
- Vais ter de inventar que estas mal disposta e ausentar da festa. No momento em que ausentas vou ter com a Dona Eva, sem que ninguém se aperceba. Digo-a para te encontrar lá em cima. Neste momento tu desapareces e deixas o resto comigo – beijou-a com ardor.
- Estou com medo… mas eu vou até ao fim, por nós, pelo nosso futuro – murmurou depois do beijo.
- Eu sei. És forte e corajosa. Por nós, pelo nosso futuro – abraçou-a e esboçou um sorriso de maldade nos lábios finos e rosados.
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