Cize (1941-2011) |
"Gostaria de dizer aos meus fãs: …sinto muito, mas agora preciso descansar. Lamento infinitamente ter que me ausentar devido a doença. Gostaria de dar ainda mais prazer para aqueles que me seguiram por tanto tempo", despediu-se, assim, a Diva dos pés descalços quando anunciou no jornal “Le Monde” o fim da carreira a 23 de Setembro.
A escolha do Le Monde não deixa de ser simbólica. O jornal de centro-esquerda, uma referência no jornalismo mundial, foi dos primeiro media a chamar a atenção para o fenómeno Cesária Évora. Nas sua páginas, discos de Cize foram sempre aclamados, como de resto no Liberation e outros mais jornais e revistas.
Mas a sua história começa em 1941 quando nasce no seio de uma família pobre no Lombo, zona de Mindelo conhecida por habitar rufias e prostitutas. Ainda adolescente começou a tocar nos bares de marinheiros que chegavam ao Porto Grande. Ganhou o vício pelo grogue e cigarro nas noites sem fim de serenatas. Sua fama espalha-se pela ilha. As portas do Grémio, clube de aristocracia mindelense, abrem-se para ela. Grava os primeiros discos (EP, de quatro faixas) através da Rádio Barlavento, propriedade do Grémio.
Veja o vídeo com o enterro da Cize
Mais tarde conseguiu vencer a bebida mas continuou a fumar intensamente. Surge a Independência, em 1975. Os primeiros anos coincidem com o período do seu apagamento. Até que, pouco a pouco, já na segunda metade dos anos oitenta começa a ser trazida de volta às noites caboverdeanas do Mindelo. Ofélia e Piano Bar são alguns lugares onde chega a cantar.
A sorte de Cize começa a mudar quando levada para Lisboa por Bana. Aqui convive com Paulino Vieira (que seria fundamental na definição do seu som) e Tito Paris. Conhece José “Djô” da Silva que fez a produção em 1988 da “Diva dos pés descalços”, seu álbum de estreia. Uma parceria que durou a vida inteira.
Sua reputação espalha-se pelo mundo. Vendeu centenas de milhares de cópias, foi nomeada para Grammys, venceu diversos prémios, cantou com inúmeros famosos e influenciou diversas artistas. Viveu.
Mas a voz que nos uniu calou-se para sempre. Da simplicidade da sua querida cidade, Mindelo, para os maiores palcos do mundo, Cize regressou ao pó na sua ilha para comprovar a igualdade da condição humana. Resta-nos agradecer este privilégio de uma estrela mundial ter nascido caboverdeana.
Aplausos e lágrimas nas ruas de Mindelo na despedida da Cize |
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