Cize abandonou os palcos mas continuou minha amiga

Minha amiga, Cize

Eu e a Cize sempre tivemos uma relação muito chegada: sempre que ela passava no seu carro eu lhe acenava contente e ela retribuía mesmo sem saber quem eu era e quando passava na porta da sua casa aproveitava e dava uma espreitadela (amizades… vocês não vão entender). Quando a via eu abraçava logo (a televisão) e ninguém nos separava. Sempre que ela cantava para mim nas nossas sessões intimistas eu aproveitava para subir o volume da rádio. Pode-se dizer que nós crescemos juntos – quer dizer, eu é cresci porque quando cá cheguei ela já tinha aquele tamanhão, e dos pés nem se fala então. 




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E não foi só isso, nós temos ainda vários pontos em comum: 

Cesária nasceu na cidade do Mindelo e eu também; 

Cize sempre cantou descalça e eu cresci jogando bola de pés descalços; 

Ela gosta de cantar e eu de ouvi-la; 

Ela gosta de si própria e eu gosto dela;

Cize tem todos os seus discos e eu também tenho todos seus discos (os meus são piratas mas ela também nunca comprou um disco dela mesma). 

Ainda há mais mas estes já deram para convencê-los da nossa relação chegada. Agora ela resolveu abandonar a carreira musical nos palcos. Quem nunca teve a oportunidade de vê-la actuar ao vivo perdeu e perdeu muito. Eu vi minha Cize no Festival da Baia das Gatas 2009 quando ela cantou na 25ª edição e enquanto gritava “Cize é k tá mandá” ela me acenava sorrindo lá de cima do palco. Uma diva como sempre será. 

Hoje, com 70 anos, ela disse adeus aos palcos por razões de saúde. Melhoras minha amiga e obrigada pelos bons momentos proporcionados.

Cesária Évora ao vivo na Baía das Gatas 2009