Existe na minha zona (Cruz João Évora) um marco de correio, provavelmente o único que ainda resiste na minha querida ilha de São Vicente.
Lembro-me do tempo em que escrevia-mos as cartas a mão, comprávamos selos postais e a carta era colocada no marco de correio. É verdade, eu já estou idoso. As cartas seguiam um certo formato: Meu querido Odair, espero que estas poucas linhas te encontrem de boa saúde no seio da tua família e amigos (…) até um dia se Deus quiser em que poderemos matar essa saudade”.
Guardava-se sobrescritos, pois lá estavam os endereços. Coleccionava-se os selos pois eram obras de arte que viajavam de e para toda a parte do mundo.
Lembro-me também duma cena engraçada. Estávamos nós sentados na praça junto ao marco. Chegou um gajo de Sintaton para enviar uma carta. Colocou-a no marco e preparou-se para seguir o seu caminho:
- Então, o senhor não vai dizer para onde a carta vai? – disse um dos meus amigos ao homem.
- Como assim? É preciso dizer? – perguntou desconfiado pois já sabia da fama das pessoas de São Vicente de gozar com as gentes de Sintanton.
- Claro que tens que dizer. Se não como é que a carta irá lá chegar? – respondeu outro colega enquanto todos de cara séria confirmavam com a cabeça.
- Bom – disse o homem, encolhendo os ombros – se é assim. Chegou-se perto do marco e colocou a boca na abertura, gritando: “ê pe Peúl”
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