Crítica aos Doutores | Dai Varela

6 de agosto de 2010

Crítica aos Doutores



Critica-se muito o estudante por (supostamente) não gostar de estudar, de não investigar, de não se aplicar nas matérias, etc. Mas este texto não é sobre os estudantes, mas sim sobre os professores. Professores Doutores, mais precisamente.

Mindelo é uma Cidade Universitária com uma certa concentração de Professores Doutores que se alternam em aulas nas várias Universidades da ilha – chegando mesmo a ministrar aulas noutras ilhas, de barco ou avião – mas que se limitam a replicar conhecimento, não a gerar novos saberes. Mas essa não é uma realidade somente de Mindelo, é de todo o país.

O Ensino Superior encontra-se numa fase proliferante, onde todos os Municípios lutam para que haja pelo menos um Departamento Universitário na sua área de influência. Esta multiplicação de Universidades, infelizmente, não tem tido o mesmo acompanhamento a nível de bibliografia especializada. Tanto de autores estrangeiros, como (e principalmente) de autores nacionais.

É por isso que em certas disciplinas os programas são baseados por completo em textos retirados da Internet. Não haveria problemas de maior se algumas dessas disciplinas não se chamassem, por exemplo, História da Arte, ou do Direito, ou da Comunicação. Neste ponto pergunto, onde estão os estudos sobre a nossa História da Arte, ou de outra área do saber?

Um dos problemas quando o programa versa sobre temas que não o da nossa realidade, é a tentação que o aluno tem de fazer copy paste (copiar e colar) e entregar ao professor como se isso fosse um trabalho de investigação. Hoje em dia parece que a Internet tem a tarefa toda feita sobre quase todos os temas – excepção feita a artigos científicos sobre a realidade caboverdeana. 

O grau de doutor comprova a realização de uma contribuição inovadora e original para o progresso do conhecimento, um alto nível cultural numa determinada área do conhecimento e a aptidão para realizar trabalho científico independente. (Artigo 37º da Lei de Bases do Sistema Educativo - Lei n.º 103/III/90 de 29 de Dezembro)

A autoridade para realizar trabalho científico independente já lhes foi concedida. Agora o que falta é colocar mãos à obra e começar a produção de artigos técnico-científicos que possam ser analisados, tanto dentro dos muros da Universidade como fora dela. Porque faz falta aos universitários caboverdeanos estudar/investigar temas afectos à nossa realidade.

Se o campo da investigação em Cabo Verde é quase virgem, então o nosso meio torna-se um local extremamente interessante a ser explorado. Em todas as áreas do saber, estamos a espera de vocês, Srs. Doutores. Apresentem a vossa preciosa contribuição para o enriquecimento do espólio do saber crioulo. O Ensino Superior caboverdeano tem pouco a ganhar com a discussão de temas retirados do site Wikipédia, desfasado da nossa realidade e de autoria duvidosa.

Que temas como o Iluminismo ou Renascimento sejam o ponto de partida, não o propósito de uma aula de Arte, Cultura e Comunicação num curso ministrado em Cabo Verde. Onde estão os trabalhos científicos a enquadrar a nossa Arte e Cultura?

Muito mais do que o alarde sobre a sua intitulação, espera-se que, para além de reproduzir saberes, os Professores Doutores possam gerar novos conhecimentos, os quais poderão ser alvos de discussão com os seus Alunos e assim ter mais e melhores elementos de avaliação.

Porque considero que um professor teria orgulho e seria uma forma de enriquecimento do seu trabalho, se trinta alunos seus (é verdade, as salas continuam cheias) analisassem e comentassem o seu artigo científico
  1. Debruçaste em pontos muito senciveis da nossa realidade educativa.
    Eu, pessoalmente, os melhores professores que ja tive durante esses quase dois anos de univercidade nem doutorados são.
    Simples lincenciados recem formados e que, dão uma aula e ve-se logo que trata-se realmente de um professor.
    Porem aulas de senhores Doutores, e a gente pergunta onde foi que esse gajo comprou este titulo?
    O ensino univercitário em Cabo verde precisa de alimar muitas arestas, muitas!
    Começando pela classe discente, passando principalmente pelos docentes, muitos deles deixam muito a desejar.

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  2. Concordo em parte com o seu artigo.
    mas há referencia que não descolar e nem ignorar porque são referenciais em qualquer universidade no mundo (renascimento, etc.) e, principalmente, para quem estuda a história de arte, meu caro. os curriculos e programas tem de estarem inseridos no mundo, sem contudo descuidar dos aspectos nacionais. tambem acho que é preciso estimular a investigação no país e garantir aos Doutores um salario que lhes permita estabilidade de acordo com o seu status e não andar pelas universidades a engordar o salario; outrossim, o país tem de ter professores universitários em numero suficiente para abarcar tod o ensino superior que se quer no país.
    mas o aluno, independentemente de o seu professor for bom, cientista ou investigador, deve ter brio, ser aplicado e exigente para consigo mesmo e depois com o resto.
    outro aspecto é que muita gente confunde artista com artesão, arte com artesanato. que arte estudar em Cabo Verde? que artistas originais temos. e que estilos ou escolas demonstram?

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  3. Acredito que o Renascimento e outros sejam referenciais no estudo da arte, mas o que critico é que sejam a única matéria em discussão durante três meses.

    Passamos a vida a elogiar Cabo Verde como terra cheia de cultura. Porque é que não investigamos essa Cultura?

    Continuo a defender que a falta de brio do aluno foi-nos incutida pelo Sistema Educativo que só nos quer a engolir um amontoado de informações que serão de pouca utilidade.

    Estamos a ser ensinados para criar ou inovar? Para quê estamos a ser ensinados?

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  4. obrigaduuuuuuuuuuuuuu...
    uma reflexão a ter em conta. devida ser socializada na lusófona. como ? um debate, sob proposta da assoc de estudantes. como diria o daniel medina. « pensa nisso ».

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  5. Oh Dai, esssa estoria de que Cabo Verde é terra de Cultura é um mito! Mais uma bazofaria de crioulo e sobretudo de MiNDELO,ja agora que passa a vida escudado no seu passado de Claridade, a dizer que é uma cidade de Cultura.
    Mas quando o pessoal diz Cultura, esta-se a referir a que ramo cultural?

    Toda a gente sabe que é em relaçao à musica. E ultimamente, nos ultimos anos com o renascimento do teatro, desse outro ramo cultural.

    Ora bem, para nao ser mau, vou admitir que é cultura mas nada de exageros! E' o começo da cultura mesmo nas duas areas, porque fazer festivais com os musicos a tocar e fazer umas peças de teatro representadas no palco, é cultura sim senhor, mas é apenas uma nesga cultural.

    Cultural é mais global. Mesmo ao nivel da musica, so tocar em concertos e bares, isso e ja estou a ser mau, nao é cultural; Cultura, é fazer musica e estuda-la, critica-la, ter um pensamento cultural e critico do que é a musica e de quem é quem na musica, dos estilos, da estatética musical, do ensino musical e artisitico, historia da musica e dos festivais,  da filosofia musical etc. 

    E' assim que ja se pode falar de Cultura. Ora bem nada disso temos. Temos apenas musicos que inclusivé sao autodidactas e que nao investigam, nas estudam e repetem sempre as mesmas musicas. Sem critica musical esses proprios musicos nao podem avançar.

    Em relaçao ao teatro a mesma coisa! E como viste so dei estes dois exemplos, porque quando se fala de Cultura em Soncente, esta-se a falar de musica e de teatro.

    Mas Cultura é muito mais. E' ter bibliotecas, ter intelectuais produzindo livros e conferências, debates, centros culturais, teatro municipal ou nacional, em termos de infraestrutras, coloquios nacionais e internacionais convidando grandes nomes e referências, operas, orquestras municipais e nacionais, escolas de artes, galerias, pintores, artistas de toda a espécie, sociologos, antropologos, filosofos, enfim é isso tudo e mais e muito mais que é Cultura.

    Conclusao: Cabo Verde nao tem Cultura, tem artefactos culturais como diria o filosofo e escritor Nhô Roque. E olha que ele disse ja ha mais de 60 anos num artigo. O que é que se fez depois?! 

    Nao me fazem rir! Como é que posso ir viver na minha terra eu que sou um fanatico pelo teatro tragico,  se nao ha tragédias gregas, shakespeareanas, racinianas, schillerianas, enfim, ja tragédia sim, a tragédia do povo crioulo que vive na ignorância cultural e nem sabe porque nao tem essa consciência e nao tem termos de comparaçao.

    Al Binda

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