O que Mindelo tinha para oferecer aos milhares de turistas? | Dai Varela

5 de dezembro de 2011

O que Mindelo tinha para oferecer aos milhares de turistas?

Neste sábado, 26 de Novembro, São Vicente recebeu cerca de quatro mil turistas que chegaram no navio de cruzeiro “Costa Fortuna”. Não sei se todos eles desembarcaram em terra para conhecerem Mindelo mas de qualquer forma é muita gente para uma pequena cidade. E o que tínhamos para oferecer a esses visitantes? Bom... na verdade não era muita coisa mas... vamos por partes. 

Mindelo não tinha um pacote turístico
para oferecer aos milhares de turistas 

que chegaram nos navios cruzeiros
Numa ilha que regista as mais altas taxas de desemprego do país e que reclama da falta de oportunidades é mais do que natural que ela tenha-se preparado para facturar um dinheirinho extra com esses milhares de turistas que vêm à procura de lugares e pessoas exóticas (isso mesmo, não se iluda, nós somos pessoas esdrúxulas). Estávamos preparados para lucrar, não é? Hum... não me parece. 

Não sou expert em Turismo. A minha maior experiência foi ter feito uns biscates como guia turístico e passeado por boa parte da ilha. Mas uma eu coisa sei: não havia oferta turística para os visitantes! 

Sei que quem chega pelo Cais do Porto Grande tem um trajecto “obrigatório” para conhecer os pontos da cidade. Neste dia poderia ter sido assim com estes turistas: saindo dos barcos acompanhados de desfile carnavalesco e Colá San Jon percorre-se a Avenida Marginal – que oferece a vista para uma das dez mais belas baías do mundo. É neste momento que teríamos vários stands pelo percurso com produtos diversos expostos para venda. Há bem pouco tempo que fomos declarados a Capital do Artesanato, logo, artigos e artesões é o que não deve faltar para disponibilizar lembranças a quem nos visita. É assim em qualquer parte do mundo que queira viver de turismo.


Segue-se pela Praia dos Botes com toda a vivência dos pescadores e peixeiras a jogarem cartas e uril. Enquanto passeia-se pode-se fotografar os vários edifícios antigos de estilo inglês antes de entra-se na Réplica da Torre de Belém que do seu terraço é possível ter uma vista incrível da cidade. 

Entra-se no Mercado de Peixe com as suas peixeiras gordas de peitos enormes a solicitarem a sua atenção para o peixe fresco e os tratadores de peixe com as suas facas afiadas à cintura escamando com técnica, velocidade e muitas discussões animadas. Sente-se o cheiro do mar, as cores e variedades de peixes. Faz-se a curva na Praça Estrela com as suas várias gravuras nos azulejos que mostram momentos marcantes da nossa História e explica-se que aquele lugar tem uma grande história onde se incluem um antigo cemitério que desapareceu sem deixar nenhuma marca. Naquele lugar outrora, no tempo dos ingleses, também existiu um campo de criket. 

Segue-se em direcção ao centro de Mindelo e passa-se pela primeira igreja da ilha, a Igreja de Nossa Senhora da Luz. E mais uma foto à Câmara Municipal com seu edifício colonial. Entra-se no Mercado Municipal com as suas paredes decoradas com azulejos e lindas gravuras para ser recebido por suas vendedeiras que não te azucrinam para comprares alguma coisa a qualquer custo. De se notar que este é o Mercado mais bonito e bem cuidado que já conheci pelas minhas viagens por estas ilhas. Não é somente um elogio ao Mercado de Mindelo, mas sim uma crítica à forma como se encontram certos mercados espalhados por estas ilhas. Aproveitamos para tirar uma foto do emblemático Palácio do Povo antes de fazer uma volta na Praça Nova onde estariam vários cantores da ilha actuando e mostrando a beleza da nossa cultura. No fim teríamos uma feira onde seria servido comida típica e boa convivência. 

Isto talvez tivesse sido o percurso ideal, mas na verdade não foi isso que aconteceu. Mindelo não tinha um pacote turístico para oferecer a estes visitantes. Em todo o percurso da Avenida Marginal não tinha mais do que alguns emigrantes da costa ocidental africana a vender os seus artesanatos, telemóveis e relógios. Nada dos nossos artesões e artistas. A Rua da Praia continuava com as vendedeiras sentadas nos passeios com suas tinas no meio das pernas vendendo peixes e verduras fora do Mercado de Peixe sem qualquer asseio. A Réplica da Torre de Belém continuou aquele edifício lindo sem muita coisa no seu interior para ver. O Centro Nacional de Artesanato e Design esteve fechado porque Mindelo pára nos sábados à tarde e esta não era uma visita programada. Foi, certamente, uma oportunidade de negócio perdida. 

Estes milhares de turistas partiram e agora São Vicente pode voltar a recordar aqueles gatos que engordavam na gemada. Pode também, já agora, continuar a culpar as outras ilhas de estarem a comer no seu prato, um prato luzidio de tanto lamberem nele.

Numa palavra, ficou faltando espírito empreendedor para mudar um pouco esta filosofia económica baseada no “tinha”. A ilha tinha o maior complexo de frio do país onde armazenava peixes e outros congelados, mas este pegou fogo e nunca mais foi reconstruído. Tinha fábricas de sapato e vestuário que fecharam e hoje os operários estão no desemprego. Tinha a intenção de receber grande número de embarcações no seu Porto Grande que já foi muito freqüentado, mas que hoje recebe poucos navios anualmente. Tinha o desejo de incrementar o turismo com vários vôos no Aeroporto de São Pedro, mas na verdade recebe escassos vôos internacionais por semana. 

Mas nem tudo está perdido. Ainda há vários outros barcos previstos para chegarem à São Vicente durante o mês de dezembro. Será que vamos deixar passar mais esta oportunidade para depois culpar os outros do nosso insucesso? 



  1. Concordando ou não com o itinerário, qualquer que fosse seria melhor do que nenhum...
    Não existe na cidade uma entidade institucional dedicada ao turismo, que saiba e possa dinamizar o sector privado nestas ocasiões?
    Há que criar hábitos mas são necessários incentivos e investimentos pois o turismo organizado é uma fonte garantida de proventos...Haja imaginação e menois apatia!

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  2. Ao ler o artigo no jornal, e agora no blog e ao deparar-me hoje com algumas dezenas de turistas que chegaram num cruzeiro na cidade da Praia meu pensamento remeteu-me para o teu título mas assim: o que a ilha de Santiago tem para oferecer aos turistas?
    As respostas não são muito agradáveis, pois temos alguns museus vazios de conteúdos. Patrimónios históricos degradados,abandonados ou transformadas em autênticos horrores com pinturas das lojas chinesas, nenhum itenerário traçado, a não ser as visitas viciadas; uma passagem pela estátua Diogo Gomes, imponente junto a Presidência da República, as nossas praias, na cidade não tem assim muita atractividade, viajando pelo interior, lá por Santa Catarina existe a casa onde Amílcar Cabral residiu, mas também não está lá grandes coisas e nem tem muito para contar sobre nossa história, mas temos uma alegria, o Campo de Concentração do Tarrafal agora foi transformada num museu, contando um pouco de história do que aconteceu lá e das pessoas que passaram por lá, antes alguma coisa do que nada. Uma passagem pelo pela vila do Tarrafal, rápida porque senão torna-se entediante. Conclusão: nós não investimos na nossa cultura e na nossa história e não adiante culpar-nos uns aos outros pela falta de iniciativa, temos é que arregaçar as mangas e trabalhar.

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  3. Muito bom Daivarela. Aliás, como é de costume. Esperar que as autoridades do sector organizem um pacote turistico visando este fluxo, no meu entender, näo é o caminho. Correm o risco de ter mais do mesmo, nada. A sociedade civil é que pode se organizar e fazer as coisas acontecerem. O roteiro já apresentaste agora é por em prática. Porque näo seres tu, Daivarela, o maestro desta empreitada? Tens com certeza os contactos necessários e a boa lábia :) Mais um punhado de amigos "valentes" e a coisa sai.

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  4. Olha, zito, se existe essa entidade ela manteve-se bem escondidinha para não ser notada e ficou, literalmente, a ver navios.

    Anónimo, na verdade falamos que somos um país turístico mas a verdade é que isso tem muito que se lhe contar.

    VF eu já dei a dica com o itinerário, agora é a tua vez de criar a empresa, heeheeehe

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  5. Adorei o itenerário, por uns minutos, fiz o percurso na minha mente, de certeza que muitos turistas iam adorar o circuito. :)

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  6. Com certeza LF, só precisam conhecê-lo.

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  7. ola Odair! Gostei muito do seu artigo e tenho vindo a pensar nisto já faz algum tempo, até estou a pensar em trabalhar nisso na minha monografia, este é um dos problemas que nós jovens e estudantes do turismo temos que juntos trabalhar e mudar esta situação, espero contar consigo quando estiver a trabalhar no meu projecto e quem sabe tira-lo do papel.

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  8. Tienes la mente bien afilada para lo que está aconteciendo y merece ser criticado, muchacho, eso es bueno; si es por esa razón que llegas un poquito tarde a clase, porque además, luego de concebir tal artículo tienes que comerte algo en Extra-- lo cual no significa que te comas algo extra, entonces estás más que justificado.

    Un abrazo.

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  9. Força lá nessa monografia Aléxia Andrade, espero que faças um bom trabalho.
    Ainda não sei como posso ajudar-te mas é só dizeres.
    Abraço

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  10. Olá bom dia
    Tentei mas não consegui entender esta passagem:
    "si es por esa razón que llegas un poquito tarde a clase, porque además, luego de concebir tal artículo tienes que comerte algo en Extra-- lo cual no significa que te comas algo extra, entonces estás más que justificado."
    Abraço

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  11. Se chegas tarde a aula devido a issa razao, porque alem disso depois de conceber tal artigo tens que comer alguma coisa em Extra ( see Mini Mercado Extra)-- o que nao significa comer algo extra, entao ten justificaçao para llegar tarde a aula.

    Percebes agora? Diz-me sinceramente.

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  12. hehehehehhehe
    agora percebi o trocadilho. É verdade que preciso comer extra, não só lá do Extra.
    Abraço e obrigado pelo elogio

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  13. You´re very welcome, boy.

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  14. Manuel António Duarte9 de dezembro de 2011 às 13:08

    Muito bem Day. Faço minhas as tuas palavras. Grande Crónica!.
    Um abração

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