"Água" desilude pela fraca qualidade | Dai Varela

13 de setembro de 2011

"Água" desilude pela fraca qualidade

Para verem o quanto gostei do espectáculo “Água” de Luciano Brandão apresentado esta segunda-feira vou logo dizendo que nunca a cadeira do Centro Cultural do Mindelo foi mais incomodativa durante uma apresentação. Foram dos 60 minutos mais longos até agora no Festival do Mindelact com o Grupo de Teatro Dja d’Sal a testar a minha capacidade de auto-punição para assistir a um trabalho de fraca qualidade teatral. É que ninguém tem pachorra para pagar seu dinheiro para ver um grupo a tentar interpretar um texto repleto de falas banais e sem uma história consistente, sem nenhum momento de clímax, etc. É, deu pra ver que não gostei nem um pouco.

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SINOPSE DO GRUPO
Cartaz do "Água"

“Água, é um espectáculo feito em coprodução Brasil/Cabo Verde. Montado pelo diretor de teatro Luciano Brandão - PI/BR, é resultado de uma formação teatral na vila de Santa Maria, Ilha do Sal - CV. Propõe valorizar a auto-estima do povo cabo-verdiano a partr de histórias colectadas dos moradores mais antigos da região, re-visitando os costumes, a musica a dança e promovendo uma Integração Social com os moradores de hoje. Água, é uma viagem a partr do modo de vida de um povo. Conta a história de pessoas que buscam a sobrevivência e para isso saem à procura do bem mais necessário para vida, a água. Sem perderem a fé, incansavelmente olham para o céu e seguem seus caminhos com perseverança e firmeza. Tem como interpretes os atores do grupo D’já de Sal, grupo de tradição teatral de longa data na Ilha do Sal.”

Durante o espectáculo ia perguntando-me como foi que esse grupo passou nos critérios de qualidade da direcção artística do Festival mas depois li no texto que nos entregaram antes do inicio da peça que este trabalho tinha sido preparado propositadamente para o Mindelact. Ah, agora entendi – pensei - quando foram escolhidos ainda não havia um vídeo do ensaio geral para que fosse possível reparar que esta peça não tem, nem de longe, a qualidade para estar no palco principal. Só pelo facto desta produção resultar de uma formação teatral na vila de Santa Maria (ilha do Sal), é ela que poderia fazer uma perninha no Off do Festival, mas palco principal, jamais. 




Outro sinal da qualidade do espectáculo é que do lugar onde estava consegui (quando ainda não estava a dormir) ver duas pessoas a abandonarem a sala. E olha que lá tinha outra saída que não conseguia ver. A primeira a sair ainda fingiu que ia atender o telemóvel e foi-se para não mais voltar. Já o segundo saiu na maior cara podre sem se preocupar com quem o observava. Foi nesta altura que temi uma debandada geral do Auditório do Centro Cultural do Mindelo. Teve alturas que pensei em seguir o exemplo mas tive que me conter por razões que nada tem a ver com a vontade de ver o final da peça e por isso fui daqueles que saíram frustrados com a falta de criatividade, dinâmica entre outras coisas.

Quando no final ouvi umas palmas mais fortes vindos das cadeiras atrás de mim, perguntei se eram familiares dos actores.

- Não – respondeu a pessoa ao meu lado – é uma claque que trouxeram do Sal com eles.

- Agora entendi.
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FICHA TÉCNICA

ENCENAÇÃO: Luciano Brandão (Brasil)

CENOGRAFIA: João Lima

DIREÇÃO SONORA: Luciano Brandão / Coletvo

DESENHO DE LUZ: César Fortes

OPERADOR DE LUZ: Odayr Delgado

OPERADOR DE SOM: Kykas

INTERPRETES / CRIADORES: Aldir Duarte, Carlos Fortes,

Lizzi Alves, Nelson Brandão, Sheila Fortes,

Stéfânia Duarte, Victor Silva

PRODUÇÃO: Victor Silva / Coletvo

CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: M/12

DURAÇÃO: 60 minutos, sem intervalo

IDIOMA: Cabo-verdiano e Português


  1. Considero esta crítica exagerada, despropositada, sem um pingo de valor pedagógico, feita, sabe-se lá porquê, para fazer com que aquelas pessoas que pisaram o palco, nunca mais o queiram fazer na vida. Olha que já vi coisas bem piores no CCM e com críticas bem mais favoráveis da sua parte. Seriam também familiares?

    Quando se vê uma peça de teatro, há que saber ver uma peça de teatro. Por exemplo, plasticamente, a peça era de uma beleza ímpar. Sobre a tal falta de história, lá está, fala da fome, de mortes provocadas pela seca, e isso o Odair provavelmente não sabe o que é. Ou não estudou. Ou sabe o que é, mas não lhe toca na alma, saber que partes substanciais da população do seu país foram dizimadas pelas secas e pelas fomes. O Odair sabia que toda aquela "história sem um pingo de interesse nem climax" foi feita a partir de relatos de pessoas mais idosas da ilha do Sal? Que tiveram familiares que efectivamente, morreram por não ter o que comer ou beber? Você sabia que na apresentação ilha do Sal, quando caiu a água da chuva, as pessoas choraram na plateia? Seriam todas familiares também? As pessoas da ilha do Sal são todas mentecaptas?

    Mais do que julgar o grupo e as pessoas da forma que o faz, o Odair poderia ter tentado perceber porque raio é que as novas gerações bocejam e gracejam quando se fala de morte, seca e fome em Cabo Verde. Não estão nem aí para isso. Quem sabe, se uma daquelas cenas no enterro fosse acompanhado de um Zouke Love, a coisa corresse um pouco melhor.

    A peça tem deficiências? Com certeza que tem. Mas um texto como este que escreveu, destrói pela negativa e não constrói pelos erros. E isso é lamentável, vindo de quem vem.

    Dito isto, quero dizer que estou a escrever este comentário enquanto director artístico do festival, terminando com um "não se pode agradar a todos", o que só pode ser um bom sinal.

    Abraço

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  2. Prezado JB,
    Faço críticas com base numa coisa que nenhum crítico por mais anos de experiência que tenha conseguirá alcançar: o meu gostar, porque este é pessoal e cada um sabe o que lhe toca na alma. E, seu eu não gostar não tenho razão nenhuma – enquanto minha opinião pessoal – de colocar paninhos quentes a ninguém. Familiares? Por enquanto não vi nenhum em cima do palco nas peças que comentei.

    Talvez por ter passado a maior parte do tempo a bocejar de tédio tenha ficado impedido de ver a “beleza ímpar” da plástica da peça. Se a história é feita de relatos de pessoas que perderam entes queridos, então o grupo não soube transmitir-me a densidade dos relatos porque o que vi no palco foram (na sua maioria) conversas triviais que não conseguiam captar minha atenção por muito tempo.

    Prezado JB, aqui você usa – intencionalmente ou não – uma falácia deveras inteligente. Quando perguntas “As pessoas da ilha do Sal são todas mentecaptas?” estás a impingir-me uma afirmação que em nenhum momento usei ou dei a entender tal coisa. De facto, o que fiz foi uma apreciação pessoal de 60 minutos de uma peça de um grupo que, por acaso, é da ilha do Sal.

    Abraço

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  3. Ainda, JB, para lhe mostrar que minhas críticas não são favoráveis quando são "familiares" meus ou desfavoráveis quando são de grupos oriundos do Sal, vale relembrar-lhe um email que lhe enviei em 2008 acerca duma actuação de um actor europeu no Mindelact:

    Da peça Tranquilli da Companhia C’ART

    11 de Setembro de 2008



    Consegui um bilhete! E ainda por cima uma oferta. Melhor ainda! Pus-me de pé junto a entrada à espera que as portas se abrissem para que pudesse sentar-me e apreciar as artes cénicas. Só que não sabia que teria de esperar em pé longos minutos sob um calor sufocante e uma barulheira de vozes que eram aumentadas pela estranha sonoridade do local. Este atraso – pensei – só pode ser por causa da complexidade do cenário. Engano meu, porque para além de uma tela e de um projector não havia “mais nada”.

    Logo na entrada era-nos oferecido uma espécie de bola de farrapos. Pensei que só poderia ser por duas razões: opção a) as bolas faziam parte do espectáculo; opção b) o actor, consciente do seu trabalho, queria satisfazer o desejo do público de lhe atirar com algo à cabeça. Bom rapaz!

    Deu-se início ao espectáculo com o actor a apresentar-se em cena com um fato inspirado nos trajes de Charlott e uma expressão que fazia lembrar Mr. Bean. Aparentemente seria uma comédia. Aparentemente, pois os movimentos expressavam algo por vezes difíceis de entender e algumas vezes um pouco entediantes, o que, sejamos honestos, não são apanágios de uma comédia bem conseguida.

    O trabalho do artista denota muito… trabalho e treino, sendo estes os melhores atributos que lhe posso reservar.

    A sua constante alusão ao relógio fazia-nos perceber que muitas cenas – algumas delas repetitivas – estavam inseridas na peça para alongar a mesma, conseguindo assim uma hora de espectáculo.

    Acho bonito que o público expresse o seu reconhecimento ao trabalho apresentado levantando-se e aplaudindo de pé. Acho bonito, mas não quando o fazem por “tradição” ou porque os outros estão se levantado e aplaudindo de pé. Por isso permaneci sentado, porque quando o espectáculo não me agradar, serei honesto comigo mesmo.

    E as bolas de farrapos eram por causa da opção b), apesar de que houve quem achasse que uma garrafa de água teria melhor efeito do que uma bola de farrapos. Talvez a sua frustração fosse maior… ou a sua ignorância.

    A peça também teve bons momentos sendo de destacar a interpretação de um trexo de Mozart com recurso à uma bomba de encher câmaras-de-ar.

    Eu, pessoalmente, não gosto de sair de um espectáculo com a sensação de “dáme nhe troco”, mas, infelizmente, foi isso que aconteceu.



    “Escrevo o que quero porque o computador é meu e a Internet não é de ninguém”.

    daivarela

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