O que estou a beber? | Dai Varela

25 de julho de 2011

O que estou a beber?

Alguém que me convença que estou bebendo um produto de qualidade quando:


- São feitas plantações de pasto para alimentar vacas que darão leite (vários agricultores e criadores de gado ganham a vida nesta tarefa e ainda é preciso lucrar);

- Este leite é transportado para uma fábrica onde é transformado e empacotado (vários condutores de camiões, operários, engenheiros e gestores ganham a vida com isso e ainda é preciso lucrar);

- Depois é transportado para o porto onde é embarcado em grandes navios de carga que atravessam o atlântico (vários condutores, estivadores, armadores e marinheiros ganham o pão de cada dia. A Alfândega aplica taxas sobre o produto exportado e ainda é preciso lucrar);

- Chegam ao porto da Praia e depois esse leite é despachado para São Vicente (vários estivadores, armadores e marinheiros ganham o fim do mês. A Alfândega aplica taxas sobre o produto importado e ainda é preciso lucrar);

- Do cais é transportado para o armazém do importador grossista (vários condutores e empregados são explorados enquanto trabalham. IVA é aplicado sobre o leite e ainda é preciso lucrar);

- Depois que a senhora lá da zona comprar duas caixas de leite ele será transportado para a sua pequena loja (o taxista ganha e a senhora lá da zona também tira o seu ganha pão);

Agora a minha pergunta: como é possível um pacote de leite atravessar o atlântico, fazer tanta gente ganhar dinheiro e mesmo assim custar-me somente 75 escudos (0,75€)?

Estarei bebendo realmente leite ou um conceito do que seria este produto?


  1. A primeira explicação que me ocorre é o preço miserável que é pago aos produtores...E, por vezes, há Governos que subsidiam a importação de certos bens de primeirissima necessidade; não sei se não será o caso...

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  2. Pois, zito azevedo, mas o problema é que o VINHO não é bem de primeirissima necessidade (pelo menos para algumas pessoas) e mesmo assim posso seguir a mesma lógica que a usada para o leite...

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  3. Para cada dama, seu par: não se pode generalizar em questões de comercio internacional.Cada caso é um caso e, já agora, uma informação sobre o leite, em Portugal:
    o produtor recebe uma média de 30 cêntimos por litro e as chamadas marcas brancas vendem a 57 cêntimos ao publico.Não esquecer que existe na Europa (incluindo os Açores) uma situação quase permanente de excessos de produção que, no entanto, não se reflectem nos preços ao consumidor pois há regras comunitárias que não permitem a ultrapassagem de certas bitolas...E quanto ao vinho, meu amigo, da mesma forma que há governos que subsidiam as "importações" de alguns bens, outros governos podem subsidiar a "exportação" de outros (Vinho? Porque não!)

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  4. zito azevedo, o Homem criou um sistema tão hipócrita quanto complexa: uma parte da Humanidade sofre de FOME, enquanto outra decide que a produção deve ser controlada e até mesmo destruída quando em "excesso".

    Esta filosofia tem provocado que os alimentos sejam modificados e super-produzidos e até que cheguem ao consumidor, já são somente o conceito do alimento em si.

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  5. Estou a perceber os dois lados da moeda, tanto o Zito como o Dai têm razão no que dizem.

    Eu cá em Portugal uso aquelas marcas que o Zito refere, ou seja, a branca e acompanho de perto a situação desses produtores por causa do meu curso. Ja agora, se querem esta Europa green, deviam valorizar mais esses produtores.

    Em Cabo Verde, dei comigo a dizer aquelas "palavras do Porto" dentro de Calu e Angela porque produtos com marca (C) do Continentes de 0,24€ custavam 0,64€.

    Ja perguntaste, por exemplo, quanto custa um Casal Garcia em CV e Pt? A diferença de preço é nada mais nada menos do que uns 3,50€!

    Ja perguntaste quanto é que um trabalhador ganha em CV e Pt?

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  6. Isto dá pano para mangas mas é preciso que falemos, todos do mesmo...É que, se estamos a falar sobre alimentos genéticamente transformados eu até acho que a ideia tinha pernas para andar desde que a ciencia conseguisse provar que eles não carregavam elementos perigosos para a vida humana e a produção fosse assegurada nas zonas de carencia alimentar e não a milhares de quilometros de distancia...Os excessos de produção são quáse tão perigosos como os excessos de inflacção: se fosse tudo colocado nos mercados, os preços desceriam de tal forma que os impostos que incidem sobre o consumo não chegariam para nada...A solução de exportar esses excedentes para zonas de carencia aparece como inatacavel, não fossem os problemas de logistica, a morosidade dos transportes, a burocracia das organizações que operam neste campo, para não falar nos assaltos, roubos e pilhagens praticados nos próprios paises de destino por gangs que operam a ceu aberto e com impunidades duvidosas...
    Estamos, efectivamente, num mundo comandado pela hipocrisia e pelo interesse e pobres daqueles que, à custa de tanta fome, já terão perdido a noção do conceito de alimento...

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