Ex-thug de S. Vicente vira activista juvenil | Dai Varela

21 de maio de 2011

Ex-thug de S. Vicente vira activista juvenil

Cleidson “Sarda” da Luz dos Santos, tem 23 anos mas desde os 15 que era membro de um violento gang da zona de Ilha de Madeira (Mindelo). Apesar da sua juventude ele já enviou algumas pessoas para o Banco de Urgência com uma catana, a sua arma preferida. Sarda afirma que isso faz parte do passado e que graças ao apoio do Centro de Juventude de São Vicente hoje é um jovem que presta valioso serviço comunitário.



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Cleidson “Sarda” da Luz dos Santos
É com certo orgulho que Sarda mostra as cicatrizes no ombro provocadas pelo disparo de uma pistola de calibre 6.35 milímetros, fruto da época em que vivia num mundo rodeado de violência. Oriundo de uma das zonas mais pobres e de má fama da cidade do Mindelo, a Ilha da Madeira, ele sempre conheceu a violência doméstica com os pais “separados e em guerra”, como nos conta Sarda. “Vivo com os meus pais mas eles estão sempre a brigar. Tenho quatro irmãos, sendo que dois moram juntos comigo, um vive sozinho e outro está preso.” Hoje em dia Sarda abandonou a vida de gang e juntou-se a um novo grupo – o Voluntariado do Centro de Juventude de São Vicente. Mas a integração foi difícil, principalmente para alguém que já era famoso e tinha nome no ambiente violento das ruas e com graves problemas de respeito pela autoridade. A tentação de voltar atrás era grande.

 
O PRIMEIRO TIRO. A PRIMEIRA CATANADA

“Eu não tinha por hábito sair à noite, mas na primeira vez que saí fui para uma festa na zona de Chã de Cemitério e foi com grande azar meu que atiraram por duas vezes sobre mim com uma pistola calibre 6.35 milímetro. O primeiro não pegou mas o segundo acertou-me no ombro direito.” Sarda levaria treze pontos no Banco de Urgência do Hospital Batista de Sousa e ainda cheio de dor afirma ter jurado vingar-se. “Isso tudo aconteceu por causa de ciúmes de uma mulher que conheci na festa. Pensei que tinha sido uma injustiça para comigo e procurei um gang para integrar-me. Comecei a minha evolução na marginalidade, entrando em conflitos armados, agredindo pessoas com catanas ou qualquer outra coisa que estivesse à mão. Algum tempo depois encontrei o rapaz que tinha atirado sobre mim e no calor da discussão desferi-lhe uma catanada. Foi lá que senti que quando nos vingamos de um inimigo sentimo-nos mais poderosos. A partir deste momento eu só pensava desta forma”, relembra Sarda.


O GOSTO PELA CATANA 




Uma das armas que Sarda afirma que não gostava de utilizar eram as facas. “A minha arma preferida era a catana. Já feri muitas pessoas com a minha catana, principalmente integrantes de gangs rivais, porque sabia que se eles me encontrassem iriam querer dar o troco. Eu sempre preferi atacar com somente um golpe de catana bem forte para evitar que voltassem para agredirem-me também. Já envie algumas pessoas para o Banco de Urgência e outras para a sala de operações e até mesmo para o estado de coma. Eu já era uma pessoa decidida na vida de gang e o medo de voltar a ser agredido fazia-me atacar primeiro. Depois juntei-me com um irmão meu, ainda mais doido do que eu, e começamos a andar sempre juntos provocando distúrbios e dissabores à nossa mãe”, salienta.


MUDANÇA POR AMOR À MÃE  

“Resolvi sair por causa da minha mãe que eu via sofrendo com os meus actos. Devido às muitas preocupações e angústias ela estava como um número um, ou seja, mesmo muito magra e doente. Foi por querer vê-la com saúde e orgulhosa de mim que decidi mudar por completo o meu comportamento”, afirma Sarda que acredita ter abandonado a vida de gang bem a tempo. “Actualmente aconselho os jovens e adolescentes para evitarem a vida de gang, até porque hoje em dia os gangs querem é só matar. Nunca mexi nas coisas dos outros. O meu problema era que estava sempre envolvido em guerras quase todos os dias. Hoje tenho vinte e três anos mas foi a partir dos vinte anos que comecei os problemas com a Polícia. Por três vezes foi pego pelas autoridades por causa de desacatos e desrespeito pela autoridade mas desde que mudei de ambiente já não tenho visto a mais a Polícia e isso graças ao CEJ-SV”, frisa. 



NOVAS AMIZADES. NOVO FUTURO


Sarda no Centro de Juventude de SV
Mas a mudança e integração de Sarda no CEJ-SV não foi fácil, como nos conta Maria doCarmo, Psicóloga do Centro e uma das pessoas que tem vindo a acompanhá-lo nesta nova fase. “Dado ao meio onde ele foi criado apresenta algumas resistências mas durante esse tempo tenho acompanhado a sua evolução, não só como jovem mas também como Voluntário do Centro de Juventude. Acredito que o CEJ-SV foi um espaço que ele encontrou, não de refúgio mas sim um local onde ele conseguiu envolver-se e desenvolver-se e onde foi integrado no grupo de jovens que participam em diferentes actividades. Também ele beneficiou de algumas formações promovidas pelo Centro o que melhorou o seu desenvolvimento pessoal e social.”

Outra referência que Sarda encontrou foi o Coordenador do Centro de Juventude de São Vicente, Manuel Fortes, que ele trata carinhosamente por “Titio Mone”. Para Fortes o CEJ-SV tem vindo a desempenhar o seu papel em relação aos jovens e Sarda é um caso de sucesso mas que este problema deve ser avaliado nas bases. “A questão dos gangs é estruturante e muito do trabalho deve ser feito nas comunidades e com as famílias, investindo nas associações comunitárias. A falta de referência familiar é uma das causas deste novo fenómeno de falta de respeito e delinquência juvenil com que hoje nos confrontamos.” Apesar de nos primeiros tempos Sarda ter demonstrado vários problemas de adaptação e de respeito pela autoridade, Fortes declara nunca ter desistido. “A preserverância valeu a pena porque Sarda é um jovem talentoso e com uma enorme habilidade manual que hoje coloca ao serviço da comunidade de forma voluntária, o que muito nos orgulha.”

Actualmente Sarda afirma-se feliz com esta mudança e não pensa em regressar à antiga vida marginal como membro de uma gang. “Já fiz muitas amizades no CEJ-SV. Logo quando entrei foi como quando entra-se na escola pela primeira vez mas depois de algum tempo consegui adaptar-me a essa nova vida. Antes de integrar-me eu costumava averiguar o lugar e observar como se faziam as amizades. Foi desta forma que comecei a ganhar confiança e intimidades. Levou algum tempo mas agarrei a oportunidade e hoje tenho muitos amigos aqui que tento agarrar com as duas mãos porque se for só com uma ela escapa”, conclui Sarda ccom um largo sorriso.

A violência, conforme diz ter aprendido, “apenas puxa a violência”.


Publicada (também) no Jornal A NAÇÃO N.º 191 - 28/04 a 04/05/2011


  1. É bom sabe q alguém vra pa ot lod, agora mas do q nunca ele tem q ser forte e tb incentiva kes ot q ele ta conhece! Força un ta espera que isso ta continua e que bo ta tem um futuro melhor e que bo ca ta dispensa esse oportunidade q bo tita tem agora!!

    Força!!

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  2. Fascinante a forma como o ambiente que no rodeia pode moldar a nossa forma de estar na sociedade. Claro que nós somos os principais responsáveis pelo rumo da nossa vida, pelas decisões que tomamos... Enquando educadores e formadores temos uma papel muito importante na vida dos outros e desde já um bem haja a Maria Do Carmo Monteiro e ao Manuel Lopes Fortes pelo excelente trabalho que fazem. Quanto ao "Sarda" Kleidson da Luz teve uma evolução maravilhosa e quem o conhece hoje em dia, não consegue de todo ver-lo envolvido num gang violento. Todos aprendemos com o nossos erros e isso faz nos mais fortes! Daivarela Rodrigues parabens pelo artigo está muito bom.XD

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  3. É bonito ver que um ex-thug virar bom rapaz na sociedade.
    Entretanto esta reportagem é de arrepiar, mais concretamente quando ele refere ao uso da catana. Com aquelas confissões frias que faz de como usava a sua catana, é de comparar somente com os loucos e psicopatas dos filmes de terror americano e assassinios em serie, quando confrontados com a policia.

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  4. Maria Do Carmo Monteiro23 de maio de 2011 às 23:33

    claro Susana a responsabilidade é ainda maior quando reflectimos bem qual o nosso papel enquanto educadores ou formadores.

    muito obrigada pela sua atenção e é claro ele é o nosso Sarda que conheces... lembras da dança da mandinga hhaha foi bwe interessante. bjs

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  5. Claro que me lembro da dança ... foi muito engraçado sem duvida :)

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  6. Jam fka mto contente pe sabe k nha broda ja muda de vidaaa pk mi ma el cria praticamente djunt dxd de piknim força man endjor cosa k bo faze foi muda de vidaaa

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