Cárcere em Mente [Cap. 6] | Dai Varela

10 de agosto de 2010

Cárcere em Mente [Cap. 6]

Capítulo 6: [Morte de merda]

Sou uma fonte de luz! Meu corpo é todo leveza, pairo sobre a cama em que antes estava deitada mas agora quem lá está é Jeremias. Com as patas atadas e os olhos furados vejo-o estremecer e abrir a boca para gritar mas não se ouve nenhum som. Lá ao fundo está um cão preparando qualquer coisa ao lume. Cheira bem! Esvoaço até ao Jeremias e toco-lhe para lhe chamar. Acordo em sobressalto com a luz do sol a queimar-me os olhos. Só quando tento proteger-me dessa luz intensa é que dou-me conta de que tenho as mãos atadas à cama. Agora é que eles me pegaram!
Tento manter meus olhos fechados por causa da violenta luz do sol que incide directamente nos meus olhos cansados. Oiço passos e coisas em que alguém está a mexer mas nenhuma voz. Volto a adormecer. Estou de volta ao meu apartamento, dou os bons dias aos simpáticos vizinhos do costume. Dou um beijo de despedida à minha esposa e levo a nossa filha de oito anos a escola e dirijo-me ao meu trabalho como gerente de um dos mais conceituados bancos da praça financeira. Foi quando estacionava o carro que tudo aconteceu, uma pancada na cabeça e fui tudo tão rápido. Tento resistir às mãos que me agarram. Acordo. Já não sinto a luz do sol sobre os meus olhos e minhas mãos agora não estão amarradas mas é com muita dificuldade que consigo chegá-las até ao peito, massajando-os cheio de dor. Deixo minha cabeça pender para o lado em direcção do velho barbudo que levanta os olhos e tenta esboçar um sorriso mostrando alguns dentes amarelos e pretos distribuídos de forma aleatório por sua boca, que está quase tapada pela barba e bigode. Diz-me que estou a dormir há três dias.
Enquanto fala a sua maçã-de-adão sobe e desce por baixo de uma pele flácida, enquanto seus olhinhos movem-se devagar por todo o meu corpo. Tem vestido uma camisa de quadras que parece ter sido verde de mangas compridas mas enroladas até ao cotovelo. Disse chamar-se João. João, que nome esquisito! Trás umas calças castanhas que não parecem ter bolsos com uma ou mais dobras sujas de terra vermelha. Tem calçado umas sandálias de plástico branco, também eles cheios de terra vermelha, deixando ver-se umas grandes unhas negras. Teve que amarrar-me, disse ele, para poder retirar o espinho. Desvio os olhos para meus pés e vejo-o amarrado com um pano sujo qualquer. Tento mexer meus dedos. A dor agora é menor. Fiz uma sopa, disse-me. Durante todo o tempo em que esteve sentado a falar ele tinha na mão uma enorme faca que usava para retirar qualquer coisa das suas negras e sujas unhas da mão. Aproximou-se de mim com um prato na mão e sentou-se na cama e com ele veio seu cheiro, cheiro a cachorro, cheiro a creolina que me fez náuseas e virei-me para vomitar.
Ele colocou-me o bacio metálico, talvez para não lhe sujar aquele chão imundo. Eu tinha de me recuperar ou então eles me levariam de novo para aquele lugar horrível. Enquanto eu me esforçava para vomitar os restos de não sei o quê do estômago o velho dirigiu-se para a mesa e sentou-se de costas para mim. Levantei-me devagarinho. Não irão me aprisionar novamente! Levantei a mão e desferi um golpe seco. O contacto do bacio de metal com a cabeça do velho produziu um som desconforme...

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