Cárcere em Mente [Cap. 5] | Dai Varela

10 de agosto de 2010

Cárcere em Mente [Cap. 5]

Capítulo 5: [Uma noite espinhosa]

É um carro vermelho, parece ser, consigo ver as rodas sujas de terra também vermelha e dentro vejo um homem com uma grande barba e nesse instante os nossos olhos se cruzam por um segundo mas o carro segue em frente lentamente. Não me viu! Voltei-me para se seguir o meu caminho quando ouço um cão ladrando nervosamente e o som do carro travando. Rodei sobre meus pés inflamados e comecei a correr embrenhando-me mais para dentro do mato sem me importar com os espinhos que me rasgavam a pele – agora não é hora de sentir dor, agora não.
Ouvi uma porta a bater e o som de passos apressados mas não me voltei. Não hei-de voltar! Mas meu corpo não estava conseguindo aguentar esse esforço. Se antes estava perdida, agora estou desorientada. Quando pensava em parar, quando eu estava a me preparar para sentir a dor dos espinhos que tinham-me com a pele toda arranhada é que senti a dor atroz que subia pelo toco do pé, passava pelo corpo até chegar à cabeça. Nesse momento não pude conter um grito de dor, um grito de animal. Cai no chão desamparada pela dor, pela fadiga e levei a minha mão devagarinho até a fonte da minha dor para sentir o resto do espinho que não tinha conseguido entrar todo, até me perfurar o osso. Puta que pariu! Esse é que é um azar dos diabos, logo agora que consegui fugir da merda daquela casa de cativeiro acontece-me isso? Porquê? O que é que fiz de errado? Isso deve ser um castigo por algum pecado. Mas o quê? Eu é que sou a vítima dessa situação. Eu é que fui sequestrado. Por ganância esses malditos deixaram-me à fome. Porquê tenho de ser eu a sofrer assim e não eles?
Preciso continuar, não posso ficar aqui sentado. Eu sei que não vou conseguir tirar esse espinho aqui, agora, sozinho. Preciso encontrar ajuda. Levanto-me devagarinho, apoiando-me numa árvore, talvez a mesma árvore que tenha parido esse espinho que agora está fincado em mim. Um vento mais forte faz os ramos balouçarem. Estás a reclamar o teu espinho? Pois por mim ele ficaria aqui contigo. Ah, de bom grado eu o deixaria aqui, mas ele está encravado no meu pé, não quer sair. Sigo coxeando por entre essas acácias sujas de terra vermelha. Agora todas elas parecem reclamar o espinho que levo comigo. Sinto-lhe os rugidos, ouço-lhes o ranger dos dentes enquanto se encurvam tentado agarram-me. Mas a dor de me apoiar nesse pé inchado e com um espinho encravado não me deixa sentir medo, pois a dor tudo supera. Silêncio.
As árvores endireitaram-se, os seus rugidos cessaram enquanto pouso meus olhos sobre um casebre que parece estar abandonado no meio das árvores. Paro, ofegante, com um braço apoiado numa acácia com a copa completamente voltada para o chão e com os ramos e as folhas tocando a terra vermelha. Aproxime-mo observando a casinha com as paredes de pedra e barro, o tecto é coberto de palha ou colmo e na soleira da porta parece que alguém se deu ao trabalho de calcetar com pedras irregulares, também elas cobertas de terra vermelha. Toquei na porta e senti-a ranger. Estava sem trancar, talvez esteja mesmo abandonada. Antes de entrar observo em redor e não vejo ninguém, mas constato que a única janela parece não ter sido aberta a anos. Empurro a porta devagarinho e enfio a cabeça para dentro procurando ver ou ouvir alguma coisa. Silêncio! Entro mas não sem antes lançar um último olhar para trás. Percorro a divisão lentamente, avançando às apalpadelas, embatendo em algo que apalpo e sinto ser uma cadeira a qual falta uma parte das costas e com o pé bato em algo que pelo barulho deduzo ser uma bacia metálica.
Encontrei, ou melhor, a minha canela encontrou algo na qual automaticamente me sento e ajudado pelas mãos consigo colocar os pés em cima. Uma cama! Dos olhos descem lágrimas de vontade própria enquanto me anicho melhor sobre o melhor colchão do mundo. Quando me preparava para agradecer a Deus por essa trégua a porta abre-se num ranger diabólico e a figura do velho barbudo desenha-se na entrada...

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